Através de uma grande base de dados de registos climáticos com objetos de todo o mundo – como anéis de troncos de árvores, formações rochosas e minerais e pólenes encapsulados em lama – o estudo internacional concluiu que 98% da superfície terrestre experienciou o seu período mais quente da Era Comum – desde o ano 1 do calendário gregoriano – nos últimos anos.
A descoberta, publicada na revista Nature, parece ir ao encontro das suspeitas da maioria dos cientistas, que acreditam que a Terra esteja agora mais quente do que alguma vez esteve nos últimos 125 mil anos. É verdade que o clima já sofreu inúmeras alterações ao longo do tempo, mas, segundo a equipa de investigadores, nunca como esta. E a grande diferença está na coerência global dos vários períodos, ou seja, no facto de as alterações passadas nunca se terem dado em todo o mundo ao mesmo tempo como se está a dar o aumento de temperaturas hoje em dia.
“Tradicionalmente, o entendimento a que se chegou do clima (nos últimos 2 mil anos) é de que existiram períodos de variação climática globalmente coerentes – que houve um período frio chamado Pequena Idade do Gelo, que houve um período quente chamado Período Quente Medieval”, conta Nathan Steiger, coautor do estudo e cientista da Universidade Columbia, nos EUA. “O que mostramos é que estes períodos não foram globalmente coerentes, como se pensava previamente”. O cientista acrescenta ainda que a coerência nas alterações climáticas observada atualmente “não pode ser explicada pela variabilidade natural do sistema climático”.
O estudo vem assim acentuar a ideia de que o aquecimento global não pode ser um fenómeno natural, ao não partilhar a incoerência geográfica inerente a estes fenómenos. A ideia de que um fenómeno climático como este possa ser natural é, segundo Yarrow Axford, cientista da Universidade do Noroeste, nos EUA, “permanentemente popular entre não-especialistas que desejem semear duvidas sobre o significado do verdadeiro e dramático aquecimento global que tem ocorrido no último século”.
Entre as personalidades que partilham desta ideia encontram-se, por exemplo, Donald Trump, que por várias vezes invocou o argumento de que as alterações climáticas oscilam e se contrariam repetidamente, como fez no ano passado, no programa televisivo 60 Minutos, da CBS.