Várias organizações assinalaram a importância de um reforço da ajuda humanitária para Moçambique, que enfrenta agora o ciclone Kenneth, menos de dois meses depois da passagem do Idai, que matou pelo menos 603 pessoas no país.
A organização não-governamental (ONG) Amnistia Internacional (AI) sublinhou hoje que o país continua “drasticamente subfinanciado”, tendo apenas recolhido 88 milhões de dólares (78,87 milhões de euros) dos 390 milhões de dólares (340,58 milhões de euros) necessários para um plano de recuperação pós-Idai e reforçou um apelo à comunidade internacional.
“Todos os países que o possam fazer, e especialmente aqueles que contribuíram significativamente para as emissões globais e aqueles que o continuam a fazer, devem enviar mais que pensamentos e orações para Moçambique. Devem providenciar uma solução para aqueles cujos direitos estão a ser destruídos pelas alterações climáticas, e isto inclui o aumento dos fundos para as adaptações climáticas e esforços pós-desastre”, afirmou o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo.
“Passaram apenas cinco semanas desde que o ciclone Idai, um dos piores desastres climáticos a na África Austral, atingiu Moçambique, e o país mal está longe de ter recuperado. Agora, o seu povo estão a experienciar o choque de outra tempestade marcante, que deve trazer chuvas devastadoras, tempestades e inundações”, acrescentou o responsável da Amnistia Internacional.
Kumi Naidoo considera que o Idai e o Kenneth são “exatamente aquilo que os cientistas climáticos avisaram que aconteceria” se se continuasse “a aquecer o planeta”.
A Cruz Vermelha Internacional aponta que as suas equipas no norte de Moçambique estão a “relatar graves danos em cidades e comunidades que sofreram as consequências” do ciclone Kenneth. A ONG refere danos elevados em vários distritos da província de Cabo Delgado, registando “danos extensos” em habitações em Quissanga e falhas de comunicação em Macomia e Muidumbe.
Há previsões que estimam chuvas de 250mm durante o fim-de-semana, o equivalente a cerca de um quarto do total anual de chuvas na região. E são precisamente as chuvas que causam mais apreensão à organização, que lembra os deslizamentos de terra e inundações causados pelo Idai e que conseguem “ser ainda mais perigosos, da perspetiva humanitária”, que os ventos.
“Os terrenos em muitas das comunidades afetadas são precários, muitas destas áreas estão sujeitas a cheias e deslizamentos de terra com chuvas normais, e isto [ciclone Kenneth] está longe de ser uma situação normal”, referiu António Carabante, um responsável da Cruz Vermelha em Nampula.
De acordo com os meteorologistas, espera-se que os distritos de Macomia, Quissanga, Mocímboa da Praia e Mecufi sejam os mais afetados pelas chuvas.
O ciclone Kenneth chegou ao Norte de Moçambique classificado com a categoria quatro, a segunda mais grave, com ventos contínuos de 225 quilómetros por hora e rajadas de 270 quilómetros por hora, anunciou hoje o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitário (OCHA).
Apesar de já ter perdido força, continua a provocar chuvas intensas na região e há elevado risco de cheias e deslizamento de terras.
Num esforço para diminuir as consequências humanitárias, o Governo moçambicano colocou, pelo menos, 36 mil pessoas acolhidas em centros de abrigo.
Moçambique volta a ser atingido por um ciclone, depois do impacto do Idai, em 14 de março, que provocou pelo menos 603 mortos, mais de 1.600 feridos e afetou 1,4 milhões de pessoas.