Na cimeira “Humanos para Marte”, que decorreu esta semana em Washington, Jim Bridenstine, congressista polémico que diz não acreditar na evidência das alterações climáticas, e que talvez por isso foi recentemente escolhido pelo Presidente Donald Trump para novo diretor da NASA, a agência espacial americana, viu-se obrigado, na sua intervenção, a acalmar a inquietação das centenas de participantes ali reunidos. “Não estejam preocupados por o nosso foco nos próximos anos ser a Lua”, disse-lhes, para depois sublinhar que “a visão do Presidente estabelecerá a liderança americana na exploração humana de Marte”. Como em quase tudo que agora chega da Casa Branca, parece confuso – mas Bridenstine explicar-se-ia melhor.
A 11 de dezembro de 2017, Trump assinou um decreto presidencial que autoriza a NASA a preparar o envio de uma nova missão tripulada à Lua. Tudo o que rodeou essa decisão alarmou os cientistas empenhados na conquista humana de Marte. Aproxima-se o 50.º aniversário do momento em que o astronauta Neil Armstrong foi o primeiro ser humano a pisar solo lunar (a 20 de julho de 1969). E Trump, no discurso que proferiu após assinar aquele decreto, sublinhou que se dava “um passo importante para o regresso dos astronautas americanos à Lua, pela primeira vez desde 1972”. Havia uma celebração exata: o 45.º aniversário da missão tripulada Apollo 17, que a 11 de dezembro desse ano aterrou no solo lunar e propiciou aos austronautas americanos Eugene Cernan e Harrison Schmitt três caminhadas sobre a superfície do icónico satélite natural da Terra – a última vez que tal aconteceu. Cernan e Schmitt foram, respetivamente, o 11.º e o 12.º astronautas a pisarem solo lunar.
Trump disse que vai “reorientar o programa espacial” dos EUA e, apesar de tudo, facultou alguma esperança à comunidade científica. Desta feita, afirmou o inquilino da Casa Branca no seu estilo flamejante, “não se trata apenas de colocar a nossa bandeira e deixar as nossas pegadas”. A nova ida à Lua, acrescentou, “estabelecerá uma base para eventuais missões a Marte e talvez, algum dia, para mundos além”.
Fiquemo-nos pela Lua e por Marte, para resumir as explicações que o diretor da NASA, Jim Bridenstine, deu à extensa plateia de especialistas que esta semana se reuniu em Washington. O regresso à superfície lunar, justificou, “permitirá experimentar e consolidar tecnologias que serão usadas na missão a Marte”. Entre muitas outras questões, estão em causa sistemas de aterragem com precisão, engenhos alimentados a metano, a habitabilidade orbital e à superfície, a mobilidade dos astronautas, ou a operação de suporte vital para estadias de longa duração. Por isso, argumentou Bridenstine, as duas futuras missões “são complementares”.
Ao contrário do que se passa nas crescentes disputas geopolíticas com a China e a Rússia, os EUA não enfrentam urgências na corrida espacial, como acontecia no tempo da União Soviética. Mas, na conquista humana de Marte, os cientistas são acompanhados pelos principais dirigentes políticos americanos, tanto republicanos como democratas, os quais, quase obsessivamente, reiteram a importância de os EUA chegarem em 1.º lugar ao “planeta vermelho”.
Por isso, já há operações calendarizadas. Em julho ou agosto de 2020, a NASA prevê lançar um veículo que é suposto aterrar em Marte e recolher amostras de rochas e do solo, para aferir as condições de habitabilidade no planeta. Esse material, segundo o plano, ficará armazenado no veículo, do qual será recolhido e trazido para a Terra por uma missão tripulada, apontada para tocar solo do “planeta vermelho” em 2033.
Já do programa de regresso dos astronautas americanos à Lua, o tal anunciado com pompa e circunstância por Trump, muito pouco se sabe. Apenas foi divulgado que, na semana passada, a NASA apresentou um esboço do protocolo de cooperação com a indústria espacial privada americana, convocada para ajudar no transporte de equipamento para a Lua.
Barack Obama tinha política diferente. Lua? “Já lá estivemos – e há muito mais Espaço para explorar”, dizia. À época, a NASA trabalhava para levar astronautas até um asteroide, como passo preparatório para a ida a Marte. Razão mais do que suficiente para Trump fazer exatamente o contrário.