Já passava da meia-noite, em Barcelona, quando os milhares de pessoas que enchem a Praça da Catalunha receberam com entusiasmo os resultados do referendo sobre a independência. Dos 2,2 milhões de votos contados, 90,9% votou a favor do sim à secessão e 7,87% contra, de acordo com os dados do governo catalão (Generalitat). O referendo da autodeterminação que Mariano Rajoy disse, às primeiras horas da noite, não ter acontecido serve agora ao líder catalão Carles Puigdemont para abrir a porta, nos próximos dias, a uma declaração unilateral da independência.
Nas contas da Generalitat faltam 700 mil votos das pessoas impedidas de votar em 400 colégios eleitorais encerrados pela polícia, em alguns casos com recurso à violência. O número de pessoas assistidas nos centros de saúde catalães aumentou para 844 ao longo de domingo, com 33 agentes de segurança entre os feridos. As imagens dos confrontos com a polícia correram mundo no que pode fragilizar a posição do presidente do governo espanhol. “Fizemos o que tínhamos de fazer”, disse Rajoy, antes de anunciar que irá esta segunda-feira, dia 2 de outubro, ao Congresso espanhol.
A Generalitat promete, no próximos dias, levar o resultado ao parlamento catalão que terá a última palavra sobre se inicia (ou não) a declaração unilateral de independência – para isso já aprovou a Lei da Transição, que estabelece as fases do divórcio litigioso com Madrid. “Os cidadãos da Catalunha ganhamos o direito de ter um Estado independente, que se constitua em forma de república”, disse Puigdemont. Esta semana, para lá do aguardado plenário do parlamento catalão, está convocada uma greve geral na Catalunha para terça-feira (3 de outubro).
Por nove vezes, o presidente do governo catalão apelou à União Europeia para “atuar com rapidez” frente aos “abusos” de Madrid. Até ao momento, Bruxelas – tal como a maioria das capitais europeias – mantém o silêncio depois de ter repetido várias vezes, antes da violência deste domingo, que a Catalunha era um “assunto interno de Espanha”. Só os líderes belga e esloveno, no Twitter, reprovaram as operações policiais na Catalunha.