Os cartazes estão espalhados por toda a cidade de Berlim. Os slogans alinham pela melhor cartilha populista, com um toque de xenofobia moderna: um mostra um bebé e o slogan “Mais alemães? Fazemo-los nós!”. Outro exibe raparigas em fato-de-banho que ilustram um cartaz com a mensagem “Burkas? Nós gostamos de bikinis”. Um terceiro ostenta três mulheres orgulhosas com os seus fatos tradicionais alemães e a tirada “Variedade colorida? Já cá temos!”.
Mensagens que, a atender a todas as mais recentes sondagens na Alemanha, estão a passar bem entre a população: a AfD (Alternative für Deutschland ou Alternativa para a Alemanha), conseguirá com toda certeza mais de 5%, o que que permite ter assento no Bundestag, o parlamento alemão. Será a primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial que um partido de direita-radical terá assento naquela instituição.

Mensagens simples e anti-politicamente correto são a fórmula da AfD
A única dúvida que parece ainda restar é se a AfD chega mesmo a ter uma representação de dois dígitos e alcançar o feito de ser a terceira maior força política no país. Sondagens desta sexta-feira confirmam este cenário que muitos consideram catastrófico: 13% dos votos para a extrema-direita, atrás da CDU/CSU conservadora e católica de Angela Merkel com 36% e dos sociais democratas SPD (centro esquerda) de Martin Schultz com 22%.
A perspectiva da AfD conseguir um resultado desta dimensão está a chocar as elites institucionais e académicas alemãs. Se conseguir mesmo ficar à frente da Esquerda (11%) e dos Verdes (8%), será com toda a certeza o principal partido da oposição depois da mais do que provável coligação que se estabelecerá nas próximas semanas, o que lhe dará um papel preponderante na assembleia, como por exemplo presidir à comissão que prepara o orçamento do país. Resta só saber com quem irá “casar” a CDU/CSU, se fará outra grande coligação com o SPD ou se escolherá outros partidos para formar governo.
Se os cartazes estão por todo o lado, encontrar alemães que queiram dar a cara assumindo votar na AfD é mais difícil. “Não queremos problemas com ninguém, só queremos a Alemanha de volta para os alemães”, diz à VISÃO um apoiante da AfD que apenas aceitou falar sem dar o nome. Este é, ainda, um voto envergonhado, num país onde as cicatrizes de um passado nazi ainda estão bem visíveis.

Alice Weidel, casada com uma mulher do Sri Lanka, é uma das cabeças de lista do partido conservador anti-imigração
O perfil do eleitor AfD é claro e alinha com os outros partidos nacionalistas internacionais: cidadãos trabalhadores, de fracos rendimentos e baixa escolaridade, desiludidos com o rumo do país. A entrada de cerca de um milhão de refugiados no país, em 2015, fez disparar a base de suporte desta direita radical. “A AfD é o partido mais bem-sucedido na direita alemã: englobou os nacionalistas, os cristãos ortodoxos e os eleitores que não se identificam com o mainstream e o politicamente correcto”, explica Oliver d’António, investigador em ciências sociais na Universidade de Kassel.
No entanto, a escolha dos candidatos que lideram a lista nacional da AfD é tudo menos óbvia para um partido conservador anti-imigração. Alice Weidel, 38 anos, partilha com Alexander Gauland o topo da lista dos candidatos da AfD. Ela que é uma lésbica orgulhosa, casada com uma mulher do Sri-Lanka, trabalhou na Goldman Sachs e vive na Suiça. contradições que pouco ou nada pareçem importar aos eleitores, que se ficam pelas mensagens simplistas e bombásticas que passam bem nas redes sociais.
No domingo saberemos ao certo quanto chão fértil terão estas ideias encontrado nos últimos tempos na Alemanha.