O novo presidente francês esvaziou as fileiras socialistas e prepara-se, agora, para abanar os conservadores numa manobra de união dentro do novo partido La République en Marche. Para essa tarefa díficil nomeou como primeiro-ministro Édouard Philippe, até agora presidente da câmara de Le Havre e membro dos Republicanos.
“Não se trata, em nenhum caso, de uma coligação governamental, mas sim de uma decisão individual. Lamentamos”, avisou, em comunicado, o partido conservador Republicanos. O tempo aperta. Emmanuel Macron tem dois meses, até às eleições legislativas de junho, para conseguir uma maioria parlamentar capaz de aprovar um programa ambicioso de reformas – uma mistura entre o liberalismo económico e a social-democracia escandinava.
Édouard Philippe, 46 anos, sempre foi próximo de Alain Juppé, ex-primeiro ministro, que disputou a nomeação dos Republicanos para a candidatura à presidência em novembro de 2016. Na altura, Juppé perdeu a batalha para o mais conservador François Fillon, que acabou por não passar à segunda volta das presidenciais.
“Se o primeiro-ministro vier da direita, Macron vai poder atacar as legislativas ao destruir a direita, da mesma forma que fez com a esquerda”, referiu o politólogo Philippe Moreau-Chevrolet à AFP. Curiosamente, Philippe participou na campanha de Fillon, até este ser acusado de abuso de poder, por ter criado empregos fictícios para a mulher e os filhos pagos com o dinheiro dos contribuintes.
A recusa de Fillon em desistir da corrida presidencial precipitou o fim da parceria. Tal como Macron, o novo primeiro-ministro quer erradicar “os conflitos de interesse” e proibir a contratação de membros de família para cargos de nomeação política. A transparência, no entanto, pode ser um ponto fraco de Phillippe – em 2014 resistiu a explicar, ao Fisco, algumas dúvidas sobre a sua declaração de impostos..
Philippe iniciou a carreira política no Partido Socialista francês, onde trabalhou com o então primeiro-ministro Michel Rocard, um modelo também para o novo presidente. No entanto, explica o “Le Monde”, acabaria por se deslocar para a direita a pedido de Juppé, para ser diretor-geral da UMP, a antiga designação de os Republicanos. “É um homem de grande talento, que conhece perfeitamente as engrenagens da atividade parlamentar. Desejo-lhe boa sorte”, afirmou Juppé após a nomeação.
Um dos critérios de Macron para o seu primeiro-ministro era que pudesse ser capaz de quebrar a divisão entre a esquerda e a direita francesas. Aliás, o próprio distancia-se destes movimentos, mas assumiu-se esta segunda-feira durante a cerimónia de tomada de posse no Palácio de Matignon, sede do chefe de governo. “Sou um homem de direita”, disse ao receber o testemunho de Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro francês.
Philippe, o primeiro “barbudo” em muito tempo no Matignon, era presidente da câmara de Le Havre desde 2010 e nunca teve um cargo governamental. Filho de professores, estudou parte da secundária em Bona. A formação académica é semelhante à de Macron: estudou em Paris, no instituto de ciência política “Sciences Po”, antes de se formar na “Ecole National de l’Administration”, um estabelecimento de onde saem muitos líderes franceses.
Os dois conheceram-se em 2011 e mantiveram contato desde então. No ano passado, Philippe afirmou aos jornalistas que Macron pensa “90% da mesma maneira” que ele e que gosta do presidente “por ser uma pessoa simpática e inteligente”. Segundo Aurore Bergé, da equipa de Juppé, é no plano económico que existem mais divergências, uma vez que Macron parece “mais liberal”.