Fogem da guerra e da fome, deixando a vida toda para trás, arriscam-se a não sobreviver à passagem do mar atualmente mais mortífero do mundo – é no Mediterrâneo que morrem mais pessoas estes dias – e ainda acabam a ser explorados por quem lançou o caos nos seus países.
Segundo contabilizou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a crise dos migrantes revelou-se uma fonte infindável de negócio para quem a está a provocar, leia-se, o autodenominado Estado Islâmico, ISIS, na sigla inglesa e outros grupos jiadistas.
Foi precisamente da Líbia pós-Kadhafi, um país decomposto, que partiram para Itália mais de cem mil migrantes até setembro desde ano – e onde o ISIS impôs uma espécie de portagem sobre o valor cobrado pelos traficantes (mais 30 por cento sobre uns estimados 300 milhões) – e que se revelou num benefício de 88 milhões, só em 2015. O trafico de migrantes revelou-se atividade de maior lucro na região, muito mais do que a droga ou o tabaco e medicamentos.
“Os migrantes preferem sair da costa controlada pelo ISIS porque têm mais possibilidades de chegar ao outro lado”, afimar Loreta Napoleoni, citada pelo El País, uma economista que acaba de publicar o ensaio Traficantes de Pessoas, “tornaram-se uma espécie de garantia de qualidade”.
Segundo Napoleoni, a razão é simples: o grupo terrorista estabeleceu um máximo de 120 pessoas a bordo dos barcos que zarpam das zonas debaixo do seu controlo, o que reduz o risco de um naufrágio. Os números dos resgates parecem ir ao encontro desta tese: as operações de salvamento disparam quando se trata de embarcações que saíram de outras regiões do que da zona líbia controlada pelo ISIS.