Passou-se em 1992, no Missouri. Um casal de estudantes de medicina apaixonou-se, passaram a viver juntos e ela engravidou. O bebé foi muito estimado por ambos, mas quando o pai, entretanto mobilizado, regressou da Operação Tempestade no Deserto (Guerra do Golfo) começou a ter comportamentos disfuncionais. Violentou a mãe, disputou o filho, e fazia ameaças sinistras. O caso acabou dramaticamente como tantas casos de violência doméstica e contendas entre casais, com filhos pelo meio – só que este desembocou em requintes de uma sordidez e maldade invulgares.
Brryan Jackson tinha apenas 11 meses, um bebé inocente, quando o seu pai apareceu inesperadamente no hospital, onde o pequeno estava internado com um ataque de asma. Pediu para ficar a sós com a criança e, quando não estava ninguém por perto, pegou numa seringa e injectou-lhe sangue infectado com HIV, recolhido de um laboratório de análises onde, então, trabalhava.
O bebé foi encontrado em choque. Não apenas o sangue estava infetado, como não era de tipo compatível com o seu grupo sanguíneo.
Quando o caso foi detectado, Brryan já tinha SIDA em estado avançado e três infecções oportunistas. As possibilidades de sobrevivência eram escassas. Passou uma infância lastimável, carregado de doenças, sempre com uma mochila de medicamentos atrás e uma sonda intra-venosa nas costas. Sofreu o estigma na escola. Os pais dos colegas pensavam que podiam contagiar os seus filhos, até se usassem o mesmo WC que ele.
Anos depois, as suspeitas começaram a recair sobre o pai, condenado a prisão perpétua em 1998. Agora, com 24 anos, Jackson superou as expectativas médicas, deixou de tomar 23 comprimidos por dia -apenas toma um, sonha ter filhos, ganha a vida com conferências motivacionais, criou uma ONG, e enfrenta novamente o pai, em tribunal, para que permaneça mesmo o maior tempo possível atrás das grades. O homem alega distúrbios pós-traumáticos de guerra, mas o filho diz que não pode nem quer perdoar. Aquele homem que enfrenta nos bancos dos tribunais destruiu-lhe a infância, a saúde para sempre e o seu ato sórdido ainda o tortura. Como pode um pai, de forma tão premeditada, vingar-se no próprio filho, sangue do seu sangue?