A promessa de novidades sobre o nascimento de Barack Obama fez convergir, na semana passada, os media americanos e estrangeiros para o novo hotel em Washington do candidato presidencial republicano. A revelação foi uma não notícia: Donald Trump admitiu que o Presidente tinha de facto nascido em solo americano. Mas antes, perante os muitos jornalistas que o acompanham na campanha, gastou tempo a mostrar o hotel que defende ter “um dos maiores e mais luxuosos salões de Washington”.
Golpe de marketing ou ação de campanha? No caso de Trump é difícil perceber onde começa a política e termina o negócio. Só no próximo mês será público se o aluguer do espaço do hotel na avenida Pennsylvania – a mesma onde fica a Casa Branca – entra ou não nas contas da campanha do magnata. Até agora várias iniciativas políticas do republicano passaram pelos seus próprios negócios e de familiares. O Politico.com calcula que 8,2 milhões de dólares (7,3 milhões de dólares) da campanha foram gastos em serviços do universo Trump – cerca de 7% da despesa total de 119 milhões.
A lista é longa e inclui, por exemplo, uma fatura de um milhão de dólares pelo aluguer da Trump Tower para quartel-general da campanha ou de 432 mil dólares pelo catering e alojamento no clube do magnata em Palm Beach, Florida. Em cada evento os holofotes estiveram virados para o candidato, mas também para seus clubes, edifícios e hotéis.
Os dados de comunicação obrigatória à Comissão Federal Eleitoral (FAC) dos EUA podem pecar por defeito. Donald Trump recusa publicar a sua declaração de rendimentos o que torna mais difícil a identificação dos interesses do próprio ou dos seus familiares em outras entidades que escapam ao escrutínio público comum. Uma reportagem do Washington Post denunciava, na semana passada, que 250 milhões de dólares tinham sido transferidos da fundação de caridade de Trump para pagar acordos legais de negócios do grupo.
Os candidatos presidenciais, ao longo dos anos, tentaram distanciar-se de qualquer atividade financeira que colidisse com os seus interesses pessoais. Hillary Clinton afastou-se da fundação da família. Trump prefere outra versão. “Não há nada como fazer coisas com o dinheiro dos outros”, disse o milionário, antes de rematar que é algo que costuma fazer “muito no mundo dos negócios”. As últimas sondagens da NBC/WSJ mostram um apoio de 48% a Clinton versus os 41% que preferem Trump a quatro dias do primeiro debate televisivo (26 de setembro) entre os dois candidatos.
A democrata Clinton, mal refeita ainda da erosão de popularidade causada pela pneumonia, já acusou Trump de “gastar os seus magros recursos de campanha nele próprio”. Não devia ficar surpreendida. Quando iniciou a corrida à Casa Branca, o candidato republicano já sabia ao que vinha. “Serei o primeiro candidato presidencial a concorrer e a ganhar dinheiro com isso”, previu Trump, em 2000, já a antecipar uma versão especial de financiamento de campanha.