O avanço nas sondagens dos que defendem uma saída da União Europeia (UE) traduziu-se num toque a reunir para os dois principais líderes políticos do Reino Unido, o primeiro-ministro David Cameron e o líder da oposição Jeremy Corbyn, ambos favoráveis à permanência entre os 28.
Embora não no sentido literal de alinharem no mesmo palco pela causa comum – porque o trabalhista na oposição recusa aparições públicas ao lado do conservador que lidera o Governo -, os dois tiraram o dia de hoje para carregar na necessidade de manter o sim à frente nas intenções de voto.
A média das últimas seis sondagens, segundo o instituto What UK Thinks, continua a dar vantagem ao lado que prefere a permanência na UE mas por uma margem mínima (51%-49%). E, nos três estudos mais recentes, o Brexit (expressão que combina as palavras Britain e Exit para significar a saída britânica da UE) ganhou duas vezes e no outro verificou-se em empate.
David Cameron só falará à noite, numa entrevista televisiva à Sky News, mas Corbyn entrou em ação logo pela manhã. O discurso no Instituto de Engenharia e Tecnologia de Londres teve um propósito claro: desfazer dúvidas quanto ao seu empenho na campanha pelo sim no referendo de 23 de junho. E duas das suas mensagens mais fortes visaram destruir bandeiras importantes do movimento pelo não, relacionadas com o mercado de trabalho e a imigração.
“A culpa não é dos migrantes, é do Governo”, atirou, sobre o facto de a concentração de estrangeiros em algumas áreas estar a prejudicar os nativos no que toca a cuidados de saúde prestados, acesso às escolas ou nas condições para garantir uma habitação a preços mais baixos.
Essas são consequências normais, fez notar o líder trabalhista, e na sua opinião poderiam ser resolvidas se o Governo de Cameron não tivesse acabado com o fundo que compensava as comunidades onde predominasse a imigração. “Os nossos cidadãos, mais de um milhão deles, também vivem e trabalham noutros países da União Europeia”, lembrou, apontando o dedo aos “empregadores sem escrúpulos”, e não aos imigrantes, pela redução de salários.
A este propósito Corbyn aproveitou para sublinhar a ironia que vê nos apoiantes da saída quando se dizem defensores dos direitos de quem trabalha, uma vez que a maioria dos benefícios de que gozam, salientou, resultam precisamente de diretrizes europeias: “O Brexit será um desastre para os direitos dos trabalhadores”.
Tem agora a palavra David Cameron, que esta noite será por certo confrontado com os resultados de outras perguntas incluídas nas sondagens mais recentes. E que revelam que a maioria dos inquiridos é da opinião que a chegada de cidadãos da União Europeia foi má para o Reino Unido a nível da saúde, educação, habitação, trabalho e salários, segurança e até da economia. Isto apesar de o crescimento económico ter passado a ser regra a partir de 1973 (14 anos de recessão num total 43) quando antes era a exceção (nos 15 anos anteriores, 14 foram de recessão). Nos últimos 23 anos, o Reino Unido apresentou um crescimento económico em 19.