Os grandes bancos, offshores e escritórios de advogados são os três vértices de um triangulo que movimentam milhões à volta do planeta, com o objetivo de despistar, na maioria das vezes, a origem e o destino do dinheiro. Desta forma, escondem-se fortunas, criam-se empresas fictícias, arranjam-se testas de ferro para esconder os verdadeiros protagonistas, possibilita-se a fuga aos impostos e lava-se o dinheiro proveniente de negócios ilícitos, como tráfico de armas ou de drogas.
Os documentos do Panamá, agora revelados pelo ICIJ, um consórcio internacional de jornalistas de investigação, mostram que, mais uma vez, os bancos nem sempre cumprem as obrigatoriedades impostas pela lei de assegurar que os seus clientes não estão envolvidos em atos criminosos e que o dinheiro não é proveniente de negócios ilícitos ou outras práticas de corrupção. Pelo contrário, o ICIJ afirma ter várias provas de que são os principais bancos do sistema mundial a facilitar a transação para as offshores, de modo a proteger os clientes e seus negócios e a possibilitar a manipulação de documentos oficiais.
De acordo com o ICIJ, os documentos a que tiveram acesso a partir de um escritório de advogados – o Mossack Fonseca – revelam que mais de 500 entidades bancárias e suas subsidiárias registaram, a partir desse escritório do Panamá, perto de 15 600 empresas petrolíferas. Só o suíço HSBC (que ainda recentemente foi implicado num dos maiores processos globais de fuga ao fisco) e suas afiliadas criaram mais de 2300 empresas difíceis de rastrear pelas entidades de supervisão e regulação.
Empresas estas criadas com a intenção de ajudar os seus clientes a manter as suas atividades financeiras sob sigilo. As informações demonstram ainda que, deste modo, podem ser movimentadas largas quantias em dinheiro de uma só vez, havendo registos que indicam transações únicas de 200 milhões.
Os 10 mais
O ICIJ avança mesmo com uma tabela dos 10 bancos que mais requisitaram empresas offshores para os seus clientes. Aqui fica a lista, por ordem decrescente:
1 – Experta Corporate and Trust Services – uma filial do Banco Internacional do Luxemburgo, que ajuda as empresas a estruturar e a gerir investimentos. Requisitou quase 1700 offshores.
2 – Banque J. Safra Sarasin – Luxembourg S.A – Dedicada à banca privada e comercial, promete discrição e confidencialidade, conforme se lê no site. Curiosamente, e ainda de acordo com o site, é membro da Associação para a Garantia de Depósitos do Luxemburgo, “uma associação sem fins lucrativos que garante depósitos feitos por pequenas empresas e indivíduos, independentemente da sua nacionalidade ou país de residência”. Usou perto de mil sociedades offshores
3 – Crédit Suisse Channel Islands Limited – Uma subsidiária do Credit Suisse. Terá usado mais de 900 sociedades offshore.
4 – HSBC Private Bank (Monaco) S.A. – Dedicada á banca privada de investimento. Só gere contas acima de 5 milhões de dólares. Requisitou perto de 800 empresas offshores.
5 – HSBC Private Bank (Suisse) S.A. – do mesmo grupo da anterior, mas com sede na Suiça. A partir daqui foram usadas 733 sociedades offshores, mas o grupo suíço HSBC, através de várias filiais e sucursais, está apontado como tendo criado mais de 2300 empresas, no total.
6 – UBS AG (Succ. Rue du Rhone) – O União de Bancos Suiços (UBS), com sede em Genébra, Suiça, é já conhecido por encontrar soluções á medida dos seus clientes. Usou perto de 600 offshores.
7 – Coutts & Co. Trustees (Jersey) Limited – Localizada na ilha de Jersey, no Canal da Mancha, ao largo da costa francesa, território sob dependência do Reino Unido, esta instituição auto denomina-se de multiespecialista em serviços financeiros, como a criação e gestão de fundos de investimento. Tem como chairman, há cerca de um ano, Lord William Waldegrave, que além de uma forte carreira política no governo britânico e membro da Câmara dos Lordes, foi vice-chairman do UBS Investment Bank. Usou perto de 500 offshores.
8 – Societé Genérale Bank & Trust Luxembourg – Mais uma instituição radicada no Luxemburgo que se dedica à banca de investimento privada. Usou 465 entidades offshore.
9 – Landsbanki Luxembourg. S. A. – É um banco em processo de liquidação desde Dezembro 2008 e que pertencia na totalidade ao Landsbanki Islands hf, um banco da Islândia, que, devido á recente crise financeira do país, acabou sendo nacionalizado. A liquidação da sucursal do Luxemburgo deixou como principal credor o Banco Central do Luxemburgo (BCL), que concedeu empréstimos contra garantias que o Banco Mundial forneceu a esta subsidiária. Usou mais de 400 offshores.
10 – Rothschild Trust Guernsey Limited – Pertence ao banco Rothschild e gere fundos de investimento a partir de Guernsey, outra das ilhas do Canal da Mancha, ao largo da Costa francesa. Usou 378 empresas offshore.