A Europa vive o medo de Colónia. Os assaltos e ataques sexuais a mulheres na noite de passagem de ano, na quarta maior cidade germânica, têm diretamente a ver com um dos maiores desafios que o Velho Continente enfrenta: a crise dos refugiados. Em Colónia e várias outras cidades europeias centenas ou milhares de mulheres foram molestadas e agredidas por “hordas” de atacantes – a esmagadora maioria, segundo as autoridades, indivíduos oriundos do Médio Oriente e do Norte de África. Os incidentes continuam a ser investigados e toda esta história oferece ainda muitas dúvidas. No entanto, há quem se apresse em apresentar os únicos culpados: os emigrantes.
Os movimentos neo-nazis e os partidos de extrema direita têm sido os primeiros a aproveitar-se deste ambiente de alarme social mas vários governos parecem ceder à tentação populista e adotam medidas que muitos julgariam impossíveis há pouco tempo: a Dinamarca vai começar a confiscar todos os bens de valor aos refugiados que entrem no país – só podem manter, por exemplo, alianças de casamento, e dinheiro ou objetos de valor até 1340 euros. A Suécia admite começar a fazer exames e testes médicos para apurar a idade de quem entra no seu território. A Alemanha prepara-se para aprovar um pacote legislativo que lhe permitirá reduzir o fluxo migratório e fazer deportações em massa já este ano. Pelo meio, as fronteiras regressam em força, ao mesmo tempo que se multiplicam manifestações e iniciativas de movimentos xenófobos.
A alemã Tatjana Festerling, a líder do Pegida (Patriotas Europeus Contra a Islamização da Europa), insiste em dizer que os incidentes na madrugada de 1 de janeiro foram “um alargado ataque terrorista às mulheres alemãs, brancas e louras”, levado a cabo por “terroristas sexuais afro-árabes”.
No início desta semana, o diário francês Le Monde publicou um esclarecedor artigo sobre a manipulação e as mentiras postas a circular nas redes sociais e até em alguns mídia sobre o que se passou em Colónia. Dois exemplos paradigmáticos.
A mulher atacada… que é um homem
Esta fotografia mostra aquela que foi uma das situações mais relatadas da noite junto à estação ferroviária de Colónia. Uma mulher rodeada de homens com “aspecto de árabes e norte-africanos” que a molestam e atacam. Sucede que a imagem foi captada em setembro, na estação de Keleti, em Budapeste, na Hungria. O seu autor foi um fotógrafo ao serviço da Anadolu Agency, agência noticiosa turca que depois iria disponibilizar essa mesma foto na Getty Images.
A manequim que não foi agredida em Colónia
Estas fotos parecem querer passar uma mensagem muito clara. Uma jovem que tinha manifestado o seu apoio à política de portas abertas a refugiados, teria sido uma das muitas vítimas do ocorrido em Colónia. A verdade é que estamos perante diferentes pessoas. Com uma agravante: a mulher que aparece com óbvios sinais de ter sido molestada é a manequim Danielle Lloyd e as imagens datam de 2009, quando ela foi violentamente agredida à saída de uma discoteca em Londres.