O medo não é visível nos rostos dos franceses, mas Paris é hoje uma cidade invulgarmente deserta, ainda atordoada com o «ato de guerra» da noite anterior – o maior atentado terrorista de sempre no seu território, com um balanço (provisório) de 128 vítimas mortais e de 99 feridos em estado muito crítico. Muitas lojas e grandes armazéns optaram por não abrir esta manhã, foram suspensas todas as competições desportivas, não houve aulas nas escolas secundárias nem nas universidades, as salas de cinema anunciaram que vão ficar encerradas, e a esmagadora maioria das pessoas preferiu manter-se em casa, acolhendo os conselhos das autoridades – até porque corre o rumor, insistente, de que alguns dos autores dos atentados continuam a monte.
A palavra “kamikaze” tornou-se, de um momento para o outro, parte integrante do vocabulário dos parisienses. É a palavra associada aos autores dos atentados, que perpetraram os ataques com cintos de explosivos à cintura – dispostos a suicidarem-se para cumprirem o seu objetivo de ceifar o maior número de vidas.
Essa situação está presente em todas as conversas e nos rostos fechados dos franceses. Em redor do Bataclan, sala de espetáculos onde se registaram o maior número de vítimas, o cordão de segurança continua montado e até mesmo os jornalistas são obrigados a manterem-se a mais de 100 metros de distância do local.
Na Praça da República, local habitual das manifestações, várias pessoas começam a deslocar-se para depositar flores junto da estátua de Marianne – símbolo da República Francesa. No entanto, ao contrário do que sucedeu, por exemplo, após os atentados no «Charlie Hebdo», desta vez as autoridades não deixam que as pessoas permaneçam mais do que alguns segundos junto da estátua. E estão proibidas quaisquer manifestações e ajuntamentos de pessoas. Por razões de segurança.