“A República Checa retira-se definitivamente da conferência ‘Durban II’, em reacção ao discurso do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, qualificando Israel de país com um governo racista”, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Checa.
Após o discurso de Ahmadinejad, os representantes dos 23 Estados da UE presentes na conferência abandonaram a sala.
“Assim como os nossos parceiros democráticos, membros e não membros da UE, não podemos permitir legitimar com a nossa presença ataques anti-israelitas totalmente inaceitáveis”, adianta o comunicado do Ministério checo.
Ahmadinejad criticou a criação de Israel e comparou-o a um “governo racista”.
“Após o final da Segunda Guerra Mundial, eles (os aliados) recorreram à agressão militar para privar de terras uma nação inteira sob o pretexto do sofrimento judeu”, explicou o presidente iraniano.
“Enviaram imigrantes da Europa, dos Estados Unidos e do mundo do Holocausto para estabelecer um governo racista na Palestina ocupada”, afirmou.
Temendo as derrapagens ligadas a declarações anti-semitas, os Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Itália, Polónia, Austrália, Holanda e Israel decidiram não estar presentes na conferência da ONU sobre o racismo.
As suas suspeitas confirmaram-se e o Presidente do Irão começou logo por lhes chamar “egoístas” em conversa com os jornalistas.
“Do nosso ponto de vista, (o boicote) decorre da arrogância e do egoísmo e está na origem dos problemas no mundo”, declarou Ahmadinejad durante uma conferência de imprensa.
“A maioria dos problemas na nossa região têm como origem a interferência das potências estrangeiras, se lá não estivessem muitos problemas se resolveriam”, insistiu.
Referindo que “o regime sionista conduz à guerra” e não acreditar que “a guerra seja a solução para o mundo”, Ahmadinejad defendeu a convocação multi-religiosa de um referendo nos territórios palestinianos “para que de forma democrática se pronuncie toda a população, muçulmanos, judeus e cristãos”.
Por outro lado, defendeu a eliminação do direito de veto dos cinco países que integram permanentemente o Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França), que considerou “injusto e discriminatório”.
“É injusto que cinco países tenham o direito de anular as decisões dos outros, que sejam os advogados, os juízes e os executores das suas ordens e sempre no seu próprio interesse”, disse ainda.
Insistiu, adiantando que o poder de veto “não ajudou em nada para solucionar os problemas no Líbano, Gaza, Iraque, Afeganistão e nos conflitos africanos”.
Na mesma conferência de imprensa, o presidente iraniano declarou “acolher positivamente” a nova política norte-americana em relação ao Irão, dizendo esperar “mudanças concretas”.
“Saudamos (a mudança da política norte-americana) pois consideramos que actualmente as alterações são necessárias”, explicou.
“Esperamos mudanças concretas e apoiamos o diálogo baseado no respeito mútuo”, adiantou.
O novo governo norte-americano do presidente Barack Obama estendeu a mão ao Irão depois de anos sem relações entre os dois países.
Em relação ao nuclear, Mahmud Ahmadinejad anunciou a semana passada que o Irão vai apresentar uma nova proposta alternativa à que lhe fizeram as seis grandes potências para conseguir a suspensão do seu controverso programa nuclear.
Os 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha) anunciaram a 8 de Abril que iam convidar o Irão para um encontro directo sobre o seu programa nuclear, que se suspeita esconda objectivos militares.