Nas eleições europeias que se auguravam como as mais decisivas de sempre, o balanço global é claro: os populares subiram e cimentaram-se como primeira força do Parlamento Europeu, os socialistas continuam a ser o segundo maior grupo, embora com uma ligeira redução de assentos, os liberais e verdes sofreram pesadas derrotas e, conforme esperado, as famílias da extrema-direita e direita radical cresceram a sua influência, apesar não da forma tão catastrófica como alguns chegaram a prever.
O centro de gravidade da política europeia ficou mais à direita, especialmente devido ao crescimento dos radicais em países relevantes como França e Alemanha, mas pode não mudar quase nada no equilíbrio de forças final face ao que foi a prática dos últimos anos: juntos, o PPE, o S&D e os liberais do Renew têm, na mais recente contagem, 401 dos 720 deputados do novo Parlamento Europeu. Ou seja: o suficiente para reeditar a clássica maioria pró-europeia que comandou os trabalhos em Bruxelas, na última legislatura.
Com a sua posição reforçada, os populares têm agora uma confiança redobrada na manutenção de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia. E, face ao enfraquecimento nos respetivos países do social-democrata Olaf Scholz, na Alemanha, e do liberal Emmanuel Macron, em França, os líderes do PPE podem também negociar com mais força toda a lógica de distribuição de cadeiras que vai ocorrer na próxima reunião do Conselho Europeu. E podem fazê-lo ainda com uma vantagem suplementar: ao contrário do que chegou a ser sugerido há poucas semanas, os populares podem já não precisar de se aliar aos Conservadores e Reformistas Europeus, o grupo de direita dominado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Mais radicais
Apesar do atual status se manter, com as forças do centro a comandaram os destinos da União, a grande história destas eleições não deixa de ser a do crescimento da direita mais radical. Em França, o Rassemblement National, de Marine Le Pen, ganhou as eleições, com quase um terço dos votos, e vai enviar para Estrasburgo uma comitiva de cerca de 30 deputados. Em Itália, o Fratelli d’Italia, de Giorgia Meloni, também ganhou com 27,7%, devendo eleger 24 eurodeputados, a que se podem juntar ainda os sete da lista da Liga do Norte, de Matteo Salvini. Na Áustria, o FPO de extrema-direita também ganhou, ficando com mais um deputado (6) do que os cinco alcançados por populares e socialistas.
Os partidos da direita radical ficaram ainda em segundo lugar na Alemanha – à frente de todos os que compõem a coligação atualmente no governo – na Holanda, na Polónia.
Segundo os últimos resultados e projeções, os dois grupos mais à direita do Parlamento, os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e o grupo Identidade e Democracia (ID), vão ocupar 131 assentos. No entanto, a presença da extrema-direita não acaba aí: a esses dois grupos pode-se também somar os 15 alemães da AfD, os 10 deputados do partido Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, os seis pertencentes ao partido Confederação da Polónia e ainda os três membros do partido Renascença, da Bulgária. Contas feitas, se todos estes partidos e organizações formassem um único grupo poderiam ser a segunda maior força do Parlamento Europeu – um cenário, no entanto, improvável, tendo em conta as rivalidades e divergências que existem entre eles.