“A expectativa é de que haja mais castanha do que no ano passado. Temos que meter na equação as condições climáticas e o aumento da área de souto. [Perspetivamos] 15% a 20% a mais do que no ano passado”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), José Gomes Laranjo, em declarações à agência Lusa.
Em 2020, Portugal teve uma produção de castanhas na ordem das 42.000 toneladas, esperando-se, neste campanha, que o número ascenda a cerca de 50.000 toneladas.
A campanha da castanha decorre entre o final de setembro e meados de novembro, contudo pode ser influenciada pelas condições do clima.
Este ano, a campanha está atrasada cerca de uma semana e meia, estando agora a ser atingido o pico da colheita.
O atraso deve-se às temperaturas registadas este ano, mais baixas do que no anterior, e também à humidade, que, em algumas regiões, como Vinhais, no distrito de Bragança, potenciou o desenvolvimento da septoriose, que é provocada por um fungo e que afeta a qualidade do fruto.
Porém, apesar destas situações pontuais, este ano, a castanha “desenvolveu-se com melhor qualidade”, apontou a RefCast.
Conforme notou o responsável desta associação, na última década, a área de castanheiro em Portugal cresceu 53%, verificando-se, ano após ano, um aumento da área do souto, fatores que justificam o aumento esperado na produção.
José Gomes Laranjo explicou que o aumento da área de souto está relacionado com a “interessante” rentabilidade da castanha, mas também com a renovação na fileira, verificando-se que os filhos e netos dos donos dos castanheiros estão interessados nesta produção.
“Estamos, gradualmente, a assistir à entrada de sangue novo na fileira, com todas as vantagens que isto pode ter. São pessoas mais predispostas a abraçar a modernização da fileira. Isto é muito interessante”, defendeu.
Face a este ritmo de crescimento, Portugal “caminha seriamente” para, a curto prazo, se posicionar como líder europeu na produção de castanha, considerou o presidente da RefCast, vincando que os exportadores nacionais estão “na vanguarda dos processos tecnológicos” para o tratamento deste fruto, em modo fresco ou congelado.
Portugal não tem excedentes de castanha, até porque é um “forte exportador”, com, pelo menos, metade da produção destinada ao mercado externo.
“O principal mercado de destino é Itália, a grande plataforma mundial do mercado de castanha. É o maior importador e exportador de castanha. França é também um destino forte e depois temos o Brasil”, que tem uma “grande tradição” de consumo deste fruto no Natal, indicou.
Para o Brasil, a castanha portuguesa vai, sobretudo, em fresco, enquanto na Europa é muito destinada para a indústria da transformação.
De acordo com a RefCast, o setor está também trabalhar para consolidar estes mercados e entrar em novas geografias, por exemplo, no Norte da Europa, sendo presença habitual em eventos internacionais de promoção, como as feiras Fruit Attraction, em Madrid, ou Fruit Logistica, em Berlim.
Já no mercado interno, a castanha não assume o mesmo peso que os outros frutos. É sazonal e tem um pico de consumo, que corre nas primeiras semanas de novembro, com festividades como o São Martinho.
“Hoje chegamos ao mercado e vemos a oferta da castanha a prolongar-se até fevereiro e março. Há uns anos isto era impensável”, acrescentou o presidente da Refcast, precisando que isto é reflexo do “poder de atualização” da fileira, mas também do interesse do mercado.
Contudo, permanecem alguns desafios, nomeadamente, a adequação da oferta à exigência dos novos públicos, sobretudo os mais jovens.
Neste sentido, destacou José Gomes Laranjo, é preciso apostar também em produtos prontos a consumir, que cheguem aos “públicos urbanos, que têm cada vez menos tempo para cozinhar”.
A RefCast tem cerca de 110 associados, incluindo produtores individuais, associações e cooperativas, que abrangem os setores da produção, transformação e prestação de serviços, bem como municípios e entidades de I&D (Investigação e Desenvolvimento).
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