Esta história tem sido o grande alimento da curiosidade geral dos últimos dias. De facto, o mistério à volta de uma empresa chamada Yupido, “descoberta” por um professor da Universidade do Minho, tem os ingredientes certos de um “thriller” económico. É a empresa mais valiosa do País, cujo capital social corresponde a 16% do Produto Interno Bruto português e ninguém sabe o que faz.
Parece que tudo gira à volta de um algoritmo. Mas já lá vamos. Enquanto surgem notícias de que a Polícia Judiciária e o Ministério Público estão a analisar a situação, a história da Yupido vai sendo desvendada.
E empresa foi fundada a 20 de julho de 2015 com um capital social inicial de 243 milhões de euros. Só este facto foi suficiente para chamar a atenção do professor da Universidade do Minho, que falou ao Observador, mas preferindo manter o anonimato.
Contou que analisa bases de dados empresariais para os seus trabalhos de investigação e que estranhou o montante avultado do capital inicial da Yupido, uma vez que esta empresa não tinha trabalhadores. Ficou atento.
Com sede jurídica na Rua Tomás da Fonseca, Torre G.1, 1.º andar, em São Domingos de Benfica, um escritório virtual das Torres de Lisboa onde não trabalha ninguém, a Yupido foi fundada por Cláudia Sofia Pereira Alves, Torcato André Jorge Claridade da Silva e Filipe Antunes Besugo. Estes dois últimos, apurou o Observador, foram militantes da JP, a juventude do CDS/PP, tendo pertencido à concelhia de Loures, da qual se demitiram antes de fundar a empresa.
Da fundação constam ainda os nomes dos advogados Tiago André Rodrigues Gama e Sofia Cristina Asseiceiro Marques Ferreira, do escritório Pares Advogados.
Um algoritmo “a la Steve Jobs”
Ainda mais espantado ficou o professor universitário que chamou a atenção pública para a Yupido quando deu conta de um aumento de capital, no início de 2016. A empresa passou a valer 28,5 mil milhões de euros. A grande fatia, no valor de 19,9 mil milhões de euros, pertence a Cláudia Alves.
O aumento de capital foi assinado pelo revisor oficial de contas António José Alves da Silva, que se confessou “maravilhado” quando viu a tecnologia. E aceitou esse crescimento de 11 722% no capital social. Trata-se de um aumento feito com bens intangíveis, ou seja, não foi feito em dinheiro, mas em espécie.
Que tipo de espécie? O Eco teve acesso ao relatório e desvenda um pouco mais da tecnologia, que é uma plataforma de distribuição de conteúdos media. Falando em “algoritmos de computação avançados”, o relatório descreve os avanços na tecnologia televisiva, falando na realidade da comercialização de televisores “com 6K e filmes a 360 graus”, segundo o jornal Eco.
Ao Expresso, o porta-voz da empresa, Francisco Mendes, disse que “trabalhamos em tecnologias de informação, estamos a preparar plataformas que visam servir pessoas e empresas. Para o próximo ano vamos lançar os primeiros serviços”.
A tecnologia continua secreta. “O que me motivou para fazer esta avaliação foi olhar para aquilo e sabe de quem me lembrei? Lembrei-me de Steve Jobs.”, disse o revisor de contas ao Observador. Parece que alguém descobriu um certo tipo de pólvora que promete revolucionar o nosso mundo.
Enquanto isso não acontece, a Yupido vai dando prejuízo (cerca de 22 mil euros o ano passado) e ainda deve pouco mais de 200 euros a fornecedores. Continua sem vendas ou funcionários. E tanta curiosidade fez soar as campainhas na Polícia Judiciária e no Ministério Público. Vamos ver como “explode” esta “pólvora”.