O BCP não para de cair em bolsa desde que na segunda-feira, 9, a administração anunciou um aumento de capital reservado aos acionistas no valor de 1,3 mil milhões de euros. Na sessão bolsista de hoje, as cotações recuaram 2,65% logo na abertura e, em poucos minutos, bateram num novo mínimo histórico, desvalorizando praticamente 6,2% para menos de 80 cêntimos por ação. Desde o início da semana, já perderam quase um quarto do seu valor. Saiba como é que o aumento de capital está a afetar a cotação do banco liderado por Nuno Amado.
Como é que vai ser feito o aumento de capital?
O BCP vai emitir 14,17 milhões de novos títulos a 9,4 cêntimos cada, para encaixar 1,322 mil milhões de euros.
Porque é que o valor das ações está a cair?
Acontece sempre que uma empresa anuncia um aumento do seu capital social com desconto. Ao emitir novas ações, com um valor de 9,4 cêntimos cada, o BCP está a fixar um preço inferior em 90% ao da cotação de fecho do dia em que anunciou a operação. É também provável que os acionistas que não vão participar no aumento de capital estejam a tentar vender os títulos na sua posse, acentuando a pressão sobre a oferta.
Quando é que a operação decorre?
O prospeto ainda não foi aprovado pela CMVM, mas o BCP está a contar com a realização da operação durante a segunda metade do mês de janeiro.
O que vai mudar na estrutura acionista?
Até ao momento, só a chinesa Fosun se comprometeu a participar na operação, pagando 531 milhões de euros para elevar a sua participação dos atuais 16,67% para 30% do banco. Os outros acionistas de referência ainda não se manifestaram mas, caso fiquem de fora da operação, as suas posições diluem-se até se tornarem praticamente irrelevantes no novo BCP liderado pelos chineses. A não ser que invista cerca de 200 milhões de euros para manter a participação, a angolana Sonangol, até há pouco tempo a maior acionista do banco, assistirá a uma descida da sua posição dos atuais 14,87% para menos de 1% do capital. Mas a operação coincide com a reestruturação financeira em curso da própria Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, não se sabendo ainda como é que o BCP se encaixa nessa estratégia.
E o que acontece aos acionistas mais pequenos?
Se não acorrerem ao aumento de capital, os outros acionistas qualificados, como o Fundo de Pensões da EDP e a Interoceânico, tornar-se-ão irrelevantes com posições pouco acima de 0,10%, como assinala o Jornal de Negócios na edição de hoje. Em consequência, perderão lugares no conselho de administração do banco, órgão onde se sentam, entre outros, Carlos Silva, em representação dos interesses angolanos, e António Mexia, presidente da EDP.
Porque é que o BCP precisa de reforçar o capital?
Este aumento de capital, reservado aos atuais acionistas, destina-se a permitir o reembolso da última tranche da ajuda estatal (de 700 milhões de euros) e a reforçar os rácios de solvabilidade (Rácio CET1 de “aproximadamente 11%”, segundo o banco). Recorde-se que em junho de 2012 o banco recebeu uma injeção de fundos do Estado (CoCo’s) no valor de 3 mil milhões de euros, dos quais ainda falta pagar uma parte.
Quantas vezes o BCP aumentou o capital nos últimos anos?
Desde 2011, o BCP realizou quatro reforços de capital reservados aos acionistas, através dos quais já arrecadou 4,3 mil milhões de euros. Com isto, o banco reforçou os seus rácios de capital, bastante afetados com a crise financeira, e angariou novos fundos para expandir a sua atividade.