Nas últimas horas, os líderes dos poderosos bancos centrais europeu e norte-americano, respetivamente Mário Draghi e Janet Yellen, redobraram os avisos e os sinais de alerta contra o Brexit. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, mostrou-se disponível para proteger a zona euro dos efeitos de um possível abandono da UE por parte do Reino Unido. “Acompanharemos de perto a evolução das perspetivas sobre a estabilidade dos preços. Estamos preparados para atuar usando todos os instrumentos disponíveis no âmbito do nosso mandato para, se necessário, alcançar o nosso objetivo”. Garantiu ainda que “o BCE está preparado para todas as contingências decorrentes do referendo britânico.
De acordo com a imprensa internacional, o BCE está articulado com o Banco de Inglaterra para garantir liquidez extraordinária, em euros e libras, caso venha a revelar-se necessário estabilizar o câmbio da moeda britânica. Em caso de turbulência nos mercados, que afete a recuperação e a confiança na zona euro, o BCE admite também prosseguir com as suas políticas de estímulos expansionistas.
Em Washington, falando perante o Congresso norte-americano, a presidente da Reserva Federal, alertou, por sua vez, contra os riscos adversos de um Brexit num mundo marcado por crescimentos fracos, inflação residual e juros baixos. “Um voto britânico na saída da União Europeia pode ter repercussões económicas significativas”, disse. “Pode trazer um período de incerteza, com consequências económicas negativas para o Reino Unido que poderão espalhar-se a toda a Europa”, acrescentou.
As preocupações dos dois responsáveis parecem ser partilhadas por alguém que estamos habituados a ver do outro lado da “linha de fogo” que separa os mercados dos bancos centrais. George Soros, famoso especulador britânico que em 1992 atirou com a libra para fora do Sistema Monetário Europeu (SME), alertou contra o perigo de uma “sexta feira negra” bolsista no dia a seguir ao referendo. O seu aviso mereceu resposta imediata de Norman Lamont, o político britânico que ocupava a pasta do Tesouro há 24 anos: “A desvalorização do esterlino em setembro de 1992 não causou quaisquer danos à economia britânica, longe disso. Nem a queda da libra será necessariamente um desastre desta vez. A principal diferença entre 1992 e hoje é que agora a libra flutua e qualquer desvalorização pode ser temporária e auto-corrigida.”
Larry Summers, ex-secretário norte-americano do Tesouro, juntou-se quase de imediato ao debate em curso, através de uma declaração no seu blogue: “Uma sexta feira negra pode seguir-se ao referendo de quinta feira”. Antecipando uma quebra das bolsas e da moeda, Summers admitiu que, apesar do reforço da supervisão financeira após o colapso do Lehman Brothers em 2008, é impossível de prever se o sistema financeiro vai aguentar o impacto de uma saída do Reino Unido da Europa. “As consequências podem ser graves”, sentenciou.
Nouriel Roubini, o economista conhecido pela alcunha Dr. Doom, por ter antecipado a crise financeira de 2008, partilha igualmente dos receios sobre o Brexit: “A economia britânica pode estagnar e entrar em recessão”, disse.
À medida que vão sendo conhecidas as últimas sondagens sobre o sentido de voto dos britânicos, mostrando que o “Bremain” [Britain remain] ganha terreno entre o eleitorado, a confiança parece estar de regresso aos mercados, fortemente afetados por perdas nos últimos dias. Esta manhã, a libra regressava ao valor mais alto dos últimos cinco meses, trocando-se por cerca de 1,47 dólares, e até o barril de crude subia para perto dos 51 dólares por barril. O índice da bolsa de Londres valorizava 0,5%, numa tendência seguida pela generalidade das praças europeias.