Alguns países produtores de petróleo estão de cabeça perdida com a persistente queda do preço do crude. Economias como a de Angola, Brasil, Argélia, Venezuela ou Nigéria, fortemente dependentes do “ouro negro” estão a sofrer com estes mínimos.
O barril do crude chegou aos 30 dólares, algo que não se via há 12 anos. Bancos como o Morgan Stanley e o Goldman Sachs vão ainda mais longe ao preverem que o preço ainda poderá baixar até aos 20 dólares. O presidente da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Emmanuel Ibe Kachikwu, já pediu uma reunião de emergência.
Vários fatores de contexto estão a contribuir para esta pressão, mas podemos apontar três grandes causas para esta situação: a desaceleração da economia chinesa, que refreia a procura por petróleo daquele mercado gigante; as crises económicas e financeiras da Europa, que tiveram o mesmo efeito na procura; e a independência energética dos Estados Unidos da América, com a produção do petróleo de xisto.
O petróleo ao “preço da chuva” é bom para Portugal? Tem as suas vantagens. Somos um País importador, logo, quanto mais barato estiver o crude, menos pagamos. O peso das importações no PIB diminui, assim como a fatura energética para as empresas e para as famílias.
Por outro lado, as desvantagens são significativas. Destacamos três “tragédias” que acompanham o petróleo barato.
1 – A queda dos emergentes
Se a Arábia Saudita e os seus aliados (Emirados e Kuwait) têm recursos mais do que suficientes para aguentar esta situação, países como Angola, Venezuela, Brasil, Nigéria ou Irão, com economias muito dependentes da produção de petróleo, estão a viver tempos complicados. Para alguns destes Estados, a extração do crude só é rentável acima dos 50 ou 60 dólares o barril (como acontece, por exemplo, no Brasil, com a dispendiosa exploração em profundidade). O Brasil está em forte recessão, com uma inflação acima dos 10%, e Angola está a braços com uma crise que está a destruir a classe média que vinha surgindo. Más notícias também para Portugal.
2 – O efeito dominó nas exportações
Angola era, em 2014, o quarto principal cliente das nossas exportações. Em 2015 passou a ser o sexto. As vendas ao país de José Eduardo dos Santos diminuíram 33% ou, dizendo de outra maneira, renderam menos €955 milhões. Para o Brasil baixaram 9,6%; para a Rússia 22,4%; para a Venezuela 32,2%; e para a Argélia 3,3 por cento.
3 – O fantasma da deflação
A deflação, entendem os economistas, é mais perigosa do que a inflação. A queda generalizada dos preços (um risco real que o petróleo barato pode provocar) é um fantasma que paira sobre a Europa, tendo como primeira consequência um travão no consumo (as pessoas esperam sempre que os preços caiam ainda mais e vão adiando as compras). Com a contração da procura, as empresas não escoam os seus produtos e começam a produzir menos, levando ao aumento do desemprego e à redução salarial. Péssimas notícias.