
Fernando Veludo
Patrícia só tem o 6º ano e sabe bem como está em desvantagem face aqueles que têm os seus cursos. Por isso bem gostava que o centro de emprego a chamasse para ir tirar um curso das Novas Oportunidades que lhe desse equivalência ao 9º ano. Mas ainda está em lista de espera. Do centro de emprego dizem-lhe que não há vagas.
Desempregada desde Junho, depois de dois meses de aviso prévio para despedimento colectivo e com salários em atraso, Patrícia não desiste de ver o lado positivo das coisas. Suspira e diz: “Ao menos agora recebemos certo”. Passado o mês de Agosto, bem tem andado a bater às portas das fábricas da vizinhança para ver se arranja algum trabalho, mas nada. “Isto está tudo lixado. Ninguém pode dar o que não tem.” O máximo que consegue é uma colecção de carimbos para apresentar no centro de emprego. Até há quem tenha trabalho para umas horas, uns biscates. Ela já tentou, mas logo a fiscalização lhe caiu em cima, e foi obrigada a suspender o subsídio. Ficou definitivamente a saber que ou tem um emprego a sério ou o subsídio. E trocar o certo pelo incerto não é coisa que dê para arriscar. “O trabalho de costureira é para acabar”, diz, encolhendo os ombros. Da última vez que esteve no centro de emprego as ofertas pediam apenas “uma cozinheira, um carpinteiro, um cortador de sapatos. O resto é tudo coisas mais altas, tipo para escritórios, em que é preciso cursos.”
Sorte é que tanto ela como o marido receberam os salários que tinham em atraso – uma medida da fábrica onde ambos trabalhavam decorrente da entrada em regime de lay-off. Ela agora conta com os 420 euros certos do subsídio de desemprego. E o marido, Agostinho Faria, traz cerca de 500 euros. Muito menos do que trazia antes, uma vez que o patrão deixou de pagar horas extraordinárias. “E se ele não paga as horas a mais, eu também não trabalho”, afirma Agostinho, que, por isto, apanhou um processo disciplinar. “Se ele tem trabalho, porque não chama os colegas que estão no lay-off?”, indigna-se. Isto está de uma maneira! Umas colegas nossas acabaram as férias e mandaram-nas embora”, acrescenta Patrícia.
Mas com pouco mais de 900 euros certos por mês lá se vão governando. Patrícia abre um armário da cozinha com algum sortido de alimentos. “Até aqui tínhamos os armários vazios. Agora já podemos ir a umas promoções nos supermercados”. Pior foi a abertura do ano escolar. Agostinho e Patrícia têm dois filhos. O João Paulo, de 14 anos, e a Ana Raquel, de dez. “Só para ela foram 65 euros de livros. Ele tem abono e os que a escola não paga, comprou-os uma prima minha”, conta. É que ainda há as roupas e o calçado, que “eles crescem muito depressa”.
A ida dos filhos para a escola foi mais um abalo no quotidiano de Patrícia. Até aqui ainda tinha a companhia deles. “Mas agora…Deito-me na cama todo o dia. Se nem umas horas posso dar, que a fiscalização não deixa, o que hei-de andar aí a fazer?”. Visivelmente, esta não é uma situação que lhe agrade. “Estar em casa não é vida nenhuma…”.
2 de Julho de 2009

Fernando Veludo
30 de Abril