Quais foram os principais momentos em que os Jogos Olímpicos se tornaram palco de grandes lutas políticas e de tensões globais?
Muitos Jogos Olímpicos foram palco das lutas políticas que atravessam o mundo. E as tensões geopolíticas expressam-se nos Jogos, em praticamente todas as edições. Podemos dar dois exemplos. Em 1976, nos Jogos de Montreal, pela primeira vez, foi organizado um boicote massivo, promovido pela Organização da Unidade Africana (OUA), que lutou, desde a sua fundação, em 1963, pela libertação das colónias africanas – uma tarefa que só terminou em 1975, quando as colónias de Portugal se tornaram independentes. A sua segunda luta foi contra o apartheid, institucionalizado na Rodésia e na África do Sul. Estas duas nações foram excluídas dos Jogos Olímpicos desde o início da década de 1960, mas a OUA continuou a fazer campanha, especialmente na ONU, para que todas os países suspendessem relações (económicas, culturais, desportivas) com a África do Sul. Quando faltavam poucos dias para os Jogos de Montreal, uma manifestação de africanos – homens, mulheres e crianças – foi organizada, no Soweto, para protestar contra o regime sul-africano. A repressão foi implacável, causando várias centenas de vítimas. A OUA reagiu imediatamente, solicitando a exclusão da Nova Zelândia, por ter hospedado a seleção sul-africana de râguebi. O COI recusou e a OUA decidiu então boicotar os Jogos. Ao apelo de boicote responderam 22 países africanos. É o primeiro boicote massivo aos Jogos, que realça a ignomínia do regime do apartheid. Também permitiu que a OUA, até aí relativamente ineficaz na ONU, assumisse uma estatura mais proeminente nas relações internacionais.