Chegou, enfim, o dia de assistir à estreia de Portugal no Euro2004. Uma prova em que a nossa seleção parte como uma das favoritas à conquista do título. Há que o assumir com toda a frontalidade, sem que isso possa, sequer, ser visto como algum tipo de sobranceria. Com os jogadores que tem, habituados a competir nos campeonatos mais competitivos do mundo e a disputar os troféus nacionais e internacionais, a Seleção Nacional não porque sentir inferiorizada em relação aos favoritos tradicionais, como Alemanha, França, Itália, Espanha ou Inglaterra. Longe vai o tempo em que parecia mal uma equipa de Portugal assumir-se como favorita. Com a experiência acumulada em 40 anos de Europeus, com presenças e duas meias-finais, duas finais e um título conquistado, mal feito seria que a equipa nacional não se pudesse já apresentar como clara candidata à vitória final. Coisa diferente é confundir esta postura ambiciosa e destemida com excesso de confiança. Não, como bem disse Cristiano Ronaldo no fim do último particular, contra a Irlanda. Lembrando que “sonhar é de graça”, o veterano capitão apontou alto: “Esta equipa tem de sonhar. É bom ter os pés assentes na terra, mas com o pensamento no céu para sonhar com o Europeu.”
Se há coisa que a presença de CR7 (o único jogador a disputar seis fases finais de um Europeu) entre os 26 convocados trás à Seleção Nacional é esta incansável fome de vitórias, ingrediente fundamental para chegar à conquista de títulos. Saiba ele dosear o seu entusiasmo e não impor a sua titularidade como indiscutível e estão reunidas as condições que, aos 39 anos, possa continuar a ser a grande arma secreta de Portugal. E é nisso que parece acreditar Roberto Martinez, que tem parecido saber gerir a presença do “melhor do mundo” com sabedoria, mantendo-o sempre na equipa, mas sem parecer capitular ao peso da sua presença. E, honra lhe seja feita, também parece ser essa a postura de Cristiano, bem diferente daquela que evidenciou, há dois anos, no Mundial do Catar.
As palavras de treinador, ontem, na antevisão ao jogo de estreia, esta noite (20h, em direto na SIC), frente a República Checa parecem ir no sentido de que o peso do capitão no seio da equipa é um assunto arrumado. “O Cristiano, como o Pepe, têm uma experiência sem igual no balneário. São os jogadores mais velhos do torneio. E depois temos jogadores como João Neves e o Chico Conceição, que estão a mostrar uma influência importante durante os jogos. É uma mistura necessária. Está tudo ligado, com o mesmo foco e o mesmo compromisso. Tudo isso é essencial para nós.” Dito isto, nem mais uma referência especial ao avançado do Al Nassr. Apenas referências coletivas, aos “23 jogadores de campo que podem jogar” contra a República Checa, pois o único titular já assumido pelo selecionador é, obviamente, o guarda-redes Diogo Costa.
Houve só mais um momento em que Martinez fez questão de concordar como Cristiano Ronaldo. Foi na questão do sonho. “Precisamos de sonhar. Sem sonhar é difícil ter sucesso no futebol”, referiu o selecionador que, apesar de não ter superstições (“nasci numa sexta-feira, 13”, lembrou), fez questão de mostrar a sua confiança num bom desempenho: “Trouxe sete camisas e não apenas três.” Pois que as use todas! Será sinal de que Portugal chega à final. É o que todos queremos!