O dia 20 de setembro passou a estar duplamente marcado na carreira de José Mourinho e na história do Sport Lisboa e Benfica. Foi nesse dia que, há 25 anos, o setubalense, à época com 37 anos, assinou o seu primeiro contrato como técnico principal de uma equipa de futebol e foi apresentado pelo então presidente, João Vale e Azevedo, como treinador do clube das águias. Um quarto de século volvido, no último sábado, 20, Mourinho realizou o seu primeiro jogo ao serviço da mesma equipa, apenas dois dias depois de ter aceitado o desafio que lhe foi lançado pelo ainda presidente Rui Costa para regressar à casa de partida. E a reestreia (se assim podemos chamar-lhe) nem correu nada mal, com o Benfica a vencer por 3-0 na Vila das Aves, num jogo que chegou a parecer complicado antes do intervalo. [n.d.r.: Na terça-feira, 22, o Benfica recebeu o Rio Ave em jogo atrasado da primeira jornada, já depois do fecho desta edição da VISÃO]. Entre estes dois dias 20 de setembro, ficam 25 anos repletos de sucessos que fizeram de José Mário dos Santos Mourinho Félix, nascido a 26 de janeiro de 1963, em Setúbal, um dos mais prestigiados treinadores de futebol da atualidade. Numa carreira que teve um início curto mas intenso no Benfica, seguida de uma auspiciosa passagem pela União de Leiria, antes de abrir as portas ao FC Porto e, depois, a Chelsea (duas vezes), Inter de Milão, Real Madrid, Manchester United, Tottenham, Roma e Fenerbache, o Special One (como o próprio se definiu no dia em que chegou pela primeira vez a Londres) soma já 26 títulos, entre os quais duas Ligas dos Campeões, duas Ligas Europa e uma Conference League, além ter ganhado campeonatos, taças e supertaças em Portugal, Inglaterra, Espanha e Itália. É verdade que, nos últimos oito anos, só venceu um título, mas, como o próprio fez questão de recordar, nos últimos cinco, esteve em duas finais europeias. É, portanto, um treinador com um currículo invejável, mas também com muito a provar nesta fase da sua vida profissional, aquele que agora regressa ao Benfica, um clube com aspirações a ser hegemónico em Portugal, mas que teima em revelar uma relação muito pouco consistente com os títulos, tendo-se sagrado campeão nacional apenas duas vezes nas últimas oito temporadas.
Rui Costa
O desafiado
Parte para esta eleição como o alvo de todasas críticas. Aos 53 anos, o carinho que os associados lhe têm pelo passado glorioso enquanto ídolo dentro das quatro linhas poderá não ser suficiente para apagar os efeitos de um mandato conturbado, marcado pela mudança constante de treinadores e as saídas e entradas de jogadores, que não valeram a conquista de títulos expectáveis. Um campeonato, duas Supertaças e uma Taça da Liga é pouco para os sócios do Benfica.
O regresso de José Mourinho ao Benfica acontece, exatamente, na decorrência desses falhanços sucessivos e numa altura em que o clube está prestes a viver um dos mais concorridos atos eleitorais da sua história, com sete candidaturas já anunciadas para disputar a presidência daqui um mês, a 25 de outubro. E acontece num período em que a contestação ao atual presidente atingia o seu ponto mais alto, depois do fracasso da temporada passada, na qual o Benfica viu fugir para o rival Sporting os títulos de campeão nacional e da Taça de Portugal nas últimas duas semanas de competição. Apesar disso, Rui Costa manteve a confiança no treinador Bruno Lage, mas apenas para orientar a equipa no Mundial de Clubes (no qual o Benfica foi eliminado nos oitavos de final), mas também para arrancar com a nova temporada. E a aposta até parecia estar a correr-lhe bem, porque, num mês de agosto terrível, o Benfica venceu a Supertaça frente ao Sporting e conseguiu o apuramento para a Liga dos Campeões. Já no campeonato, as exibições eram fracas, mas as vitórias iam aparecendo. Até que um falhanço inacreditável do capitão Otamendi permitiu ao Santa Clara empatar no último minuto no Estádio da Luz, na sexta-feira, 12. Quatro dias depois, uma derrota em casa (2-3) frente ao modesto Qarabag, do Azerbaijão, na estreia na Liga dos Campeões. Nessa mesma noite, já madrugada de quarta-feira, 17, Rui Costa anunciou o despedimento de Lage. Ao final da tarde desse mesmo dia, aterrava em Tires o senhor que segue, José Mourinho, que foi apresentado oficialmente no dia 18.