Nélson Évora mostrou que mantém a fibra de campeão. Fernando Pimenta demonstrou que faz parte da elite que pode sempre ganhar medalhas. Foi isso que se viu hoje no Rio de Janeiro, à mesma hora, em duas pontas da “cidade maravilhosa” (40 minutos a stressar no táxi entre uma e outra!). Ambos provaram, uma vez mais, que são dos melhores do mundo. Repito: dos melhores do mundo.
Basta recapitular as provas dos dois para o confirmar. Quando faltavam menos de 50 metros para a meta, ninguém podia garantir que Pimenta já estava fora das medalhas – muito menos os seus adversários. E até ao seu ultimo ensaio, ninguém arriscava dizer que Nélson não conseguia arrancar um salto como nos “velhos tempos” e ganhar um lugar no pódium – como tinha feito, ainda há um ano, quando foi bronze no Mundial, em Pequim.
Eles estiveram sempre lá na luta. A dar tudo o que tinham. A arriscar – e não é figura de estilo, foi mesmo arriscar fisicamente, expor-se a lesões, suportar dores, esticar os músculos e tendões para além dos limites. Como fazem todos os dias, tantas horas, apenas com a diferença de não haver câmaras a filmá-los.
Embora pareçam desportos nos antípodas um do outro, tanto o triplo salto e a canoagem são semelhantes no esforço brutal que exigem aos seus atletas. São provas muito técnicas e que exigem uma coordenação motora para lá da perfeição, que nem sempre é identificável pelos espectadores.
Os canoístas têm, por exemplo, um grande trabalho de pernas, quase invisível, mas fundamental para equilibrar a canoa e ajudá-la a ganhar mais velocidade. E necessitam de estar nos níveis máximos de potência e força para, em movimentos sincopados do tronco e braços, impulsionarem a canoa com a melhor técnica possível de colocação da pagaia na água.
Quando se vê Nélson Évora a “voar”, muito poucos imaginam a técnica que é precisa para conseguir correr tão depressa e dar três pulos, com posições perfeitas de braços, tronco e pernas, tentando manter essa velocidade no ar. E ter um joelho capaz de suportar o equivalente a quase uma tonelada de peso, sempre que faz a chamada para o segundo salto.
Não foi nos Jogos do Rio que Nélson Évora e Fernando Pimenta ascenderam ao estatuto de melhores do mundo. Já estão nesse patamar há muito tempo – embora nem sempre com o reconhecimento devido, em Portugal, apesar de um ter sido campeão olímpico e o outro vice-campeão. E não foi por terem ficado fora das medalhas, nos Jogos do Rio, que Nélson Évora e Fernando Pimenta deixaram de estar entre os melhores do mundo. Por uma razão muito simples: esse estatuto é-lhes atribuído pelos seus principais adversários. Sem discussão.
Na lagoa Rodrigo de Freitas, nos últimos dois dias, foi visível o respeito que o nome de Fernando Pimenta suscita entre os atletas das várias selecções. Ele era, para todos, um “alvo” a abater, alguém que tinham que vigiar com muito cuidado.
Nélson Évora também sentiu, entre os outros finalistas, o reconhecimento justo e devido ao campeão olímpico que, mesmo após uma prolongada e grave lesão, voltou para tentar defender o seu título. Foi o único “do seu tempo” a arriscar o confronto com os jovens de grande qualidade que têm estado a elevar o nível do triplo salto – e foi amplamente aplaudido e saudado pelo público brasileiro nas bancadas.
Mas nos bastidores do Estádio do Engenhão, na chamada zona mista, Nélson também teve provas de reconhecimento do seu estatuto e valor: repórteres de alguns dos mais importantes meios de comunicação social internacional chamavam-no para ouvir a sua opinião sobre a prova, mas também para saber mais pormenores acerca da sua incrível recuperação física.
Só por causa disto tudo, valeu a pena vê-los a lutar.