Como é que um atleta classificado em 38º lugar no ranking da sua modalidade consegue, nos Jogos Olímpicos, galgar 19 postos e terminar entre os 10 primeiros? E que nome se dá aquilo que motiva um desportista, três dias depois de sofrer uma queda dolorosa, a melhorar em 11 lugares a sua anterior classificação olímpica e intrometer-se entre os maiores do seu desporto? E o que é que faz outro atleta, no intervalo de três dias, conseguir proezas que, em Portugal, no seu desporto, não se viam há quase três décadas. A resposta resume-se a uma palavra: superação.
O canoísta José Carvalho, o ciclista Nélson Oliveira e o nadador Alexis Santos não subiram ao pódium no Rio de Janeiro, mas o seu nível de superação, tendo em conta as marcas com que chegaram aos Jogos, não é inferior, em muitos casos, ao de quem ganhou medalhas. Precisaram, igualmente, de se superiorizarem aos seus mais directos adversários e a muitos outros que, à partida, seriam mais fortes.
O caso de José Carvalho é exemplar. Há cerca de um mês ele nem sequer estava apurado para os Jogos do Rio e apenas entrou na lista porque a Grã-Bretanha, à última hora, não preencheu uma das suas vagas. Ou seja, o canoísta chegou aos Jogos porque era aquilo a que se costuma chamar “o primeiro dos últimos” – e depois passou a ser mesmo “o último dos últimos”, na lista dos atletas em competição.
Mas isso era no papel. Nas águas revoltas do slalom, na pista de Deodoro, José Carvalho nunca andou pelos últimos lugares. E acumular aquilo que, para ele, podem ser consideradas proezas atrás de proezas: primeiro a passagem às meia-finais, depois o apuramento para a final e, finalmente, um 9º na classificação. Ele que chegou, recorde-se, como o 38º do ranking mundial.
Nélson Oliveira chegou aos Jogos Olímpicos rodeado de alguma expectativa, devido ao terceiro lugar obtido num contra-relógio da Volta à França. Esperava-se, por isso, que melhorasse no contra-relógio do Rio 2016 o 18.º lugar obtido em Londres, há quatro anos. No entanto, a queda que sofreu e que o obrigou a desistir na prova de estrada, no sábado, deixou-o de certa forma limitado. Até psicologicamente: na quarta-feira de manhã, começou receoso, perante condições meteorológicas adversas (chuva e vento), tentando evitar nova queda. Soltou-se na segunda metade e terminou em 7.º lugar – com direito a diploma olímpico.
Alexis Santos é um caso ainda mais excepcional: na sua primeira participação em Jogos Olímpicos, conseguiu alcançar um feito inédito para qualquer nadador português nos últimos 28 anos: classificar-se entre os 16 primeiros (o equivalente a semi-finalista). E fê-lo por duas vezes:. Primeiro nos 400 metros estilos (retirando quase meio segundo ao seu recorde nacional!), e depois nos 200 metros estilos (onde tinha o 23.º melhor tempo entre 31 concorrentes). O que é que se chama a isto: superação.