As comunicações em português nos canais de propaganda do Estado Islâmico, ao longo das últimas semanas, e a procura por novos combatentes falantes da língua de Camões fizeram disparar o nível de alerta nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, cuja cerimónia de abertura se realiza esta sexta-feira. Os serviços de inteligência dos Estados Unidos estão no terreno, em estreita colaboração com as forças policiais brasileiras, para evitar atentados terroristas na cidade maravilhosa, avança o New York Times, citando agentes de ambos os países.
Como país neutro nos grandes conflitos mundiais, o Brasil confiou durante muito tempo que iria passar ao lado de atentados. Mas se o facto de os Jogos Olímpicos terem grande impacto mediático já de si impõe fortes medidas de segurança, as recentes ações do Daesh aumentam a preocupação das autoridades. No passado dia 19 de Julho, na aplicação encriptada para telemóveis Telegram, os jihadistas apelaram aos “lobos solitários de qualquer parte do mundo para se deslocarem para o Brasil”, acrescentando que “vistos e bilhetes serão fáceis de conseguir”. E apresentavam 17 sugestões de como atacar durante os Jogos Olímpicos – com “venenos” e “pequenos drones com explosivos” – e que alvos atingir: “Americanos, ingleses, franceses e israelitas.”
Os métodos pouco convencionais dos atentados mais recentes na Europa e nos Estados Unidos fazem temer que algo do género possa repetir-se em solo brasileiro e, nesse sentido, as unidades antiterrorismo do Brasil têm vindo a receber formação das americanas. Quer em questões mais específicas, como identificar potenciais alvos de terrorismo fora das zonas mais seguras da cidade, quer em matérias mais abrangentes, por exemplo relacionadas com as estratégias para fazer o policiamento em grandes eventos desportivos – em fevereiro deste ano, as forças de segurança brasileiras deslocaram-se aos EUA para assistirem aos procedimentos adotados durante o Superbowl, a final do campeonato de futebol americano.
O cruzamento de informações entre o Brasil e os Estados Unidos, que dura há pelo menos ano e meio, só se tornou mais visível quando, há duas semanas, foram detidas 10 pessoas suspeitas de estarem a preparar um ato terrorista durante os Jogos Olímpicos. Na ocasião, as autoridades brasileiras assumiram que o contributo do FBI, a polícia federal americana, havia sido fundamental para localizar e deter os indivíduos, todos brasileiros e supostamente apoiantes do Estado Islâmico.
Segundo o New York Times, quando se iniciou a colaboração, os americanos encontraram debilidades na resposta brasileira a possíveis ataques químicos ou biológicos, assim como falta de efetivos nas brigadas antiterroristas. No entanto, de acordo com o diário americano, desde o final de 2015 que os brasileiros ganharam maior perceção do risco e até foi criada uma nova lei para facilitar a detenção de pessoas suspeitas.