Com 1,62 m de altura e 44 kg de peso, a fundista está confiante na sua participação na maratona dos Jogos Olímpicos (JO) de Londres. Recentemente prescindiu de ir ao Europeu em Helsínquia e de acompanhar o companheiro Eduardo, guarda-redes da seleção nacional, à Polónia e à Ucrânia no europeu de futebol, tudo em prol dos treinos para os JO. Nascida em França, há 30 anos, mora em Braga, mas treina na Maia. Quando não corre, Jéssica não sabe o que fazer – comer pastilhas elásticas de morango ou de pêssego pode ser um hobby, tal como já é comprar ténis.
Começou a correr tarde, aos 16 anos. Isso condicionou os objetivos de chegar a atleta de alta competição?
Acho que não. Sinto-me uma atleta de alta competição. Fui Campeã Europeia de Corta-Mato Júnior com 19 anos; venci o Campeonato Nacional dos 800, 1 500, 3 000 e 5 000 metros em diversos escalões entre 2001 e 2007; conquistei o ouro nas Universíadas de Banguecoque em 2007; fui Campeã Nacional de Estrada e Corta-Mato Longo em 2008, ano em que fui Vice-Campeã Europeia de Corta-Mato; dois anos mais tarde, venci o Campeonato Ibero-americano de Atletismo nos 3 000 metros e o Campeonato da Europa de Corta-Mato, o qual se realizou perante o público português, uma prova inesquecível… Em 2011, concretizei um sonho ao correr pela primeira vez a maratona, fui oitava em Londres e consegui a segunda melhor marca portuguesa de sempre, depois da Rosa Mota. Acho que tenho alcançado resultados importantes, estes são alguns entre muitos, que me fazem sentir uma atleta de alta competição. Independentemente da idade, sem o apoio da minha família, em especial da minha mãe, nunca teria alcançado tudo o que consegui até agora.
Acha que se perdeu uma boa enfermeira ou ainda vai dar continuidade ao curso?
Ganhou-se uma boa atleta… Os resultados começaram a aparecer e decidi dedicar-me a 100% ao atletismo, por isso congelei a matrícula do curso. No futuro, equaciono o regresso aos estudos.
Como tem sido a preparação para os JO. Dias de treinos intensos?
Tem sido uma preparação regular. Treino duas vezes por dia; durante a semana, em duas ocasiões faço treinos intervalados, e ao domingo dedico-me ao treino longo. Pelo meio, vou participando nalgumas provas.
O que será preciso para superar o minuto de diferença que tem do recorde de Rosa Mota (2:24:33 vs 2:23:29)?
Tenho duas participações na maratona, ambas em Londres. A estreia no ano passado foi fabulosa, consegui a segunda melhor marca portuguesa de sempre (2:24:33), um tempo que me deixou bastante orgulhosa. Já este ano repeti o oitavo lugar e fui a segunda atleta europeia a cortar a meta. São dois resultados que aumentaram a minha confiança. Acredito que com um treino sólido, uma boa preparação, muito trabalho e empenho consigo superar-me de prova em prova.
Continua a acreditar que ‘o impossível é aquilo que nunca se tentou’?
É uma grande verdade! Traduz bem o espírito com que devemos enfrentar a vida, em todos os momentos e a todos os níveis. É a máxima que me tem guiado.
Porque diz não haver favoritos para a maratona?
A maratona é uma prova muito imprevisível. Em 42 km, muita coisa pode acontecer… Ganha quem menos se espera e podemos recordar a vitória da romena Constantina Tomescu, em 2008, quando acabou por surpreender as africanas, tradicionais favoritas.
Conhece muito bem os percursos londrinos da Maratona – quais as expectativas que tem para as quatro voltas da Maratona dos JO, está à espera de surpresas?
Já corri duas vezes a Maratona de Londres, conheço a cidade e a zona da prova, mas o percurso será diferente. Aliás, a própria competição é diferente. Estamos a falar dos JO, onde participam os melhores atletas do mundo. Acredito que será uma prova fortíssima, renhida e muito disputada. Poderão existir surpresas porque todas vão dar o melhor e quem sabe se a campeã olímpica não será novamente uma atleta europeia.
Nos JO de Pequim, em 2008, não teve a presença dos familiares. Agora terá a sua mãe, Ana Maria Augusto, a acompanhá-la. É um apoio essencial? Já lida melhor com a presença dos mais próximos nas provas?
Sou embaixadora da Procter & Gamble em Portugal para os JO de Londres com a campanha “Obrigado Mãe”, uma iniciativa que pretende homenagear todas as mães do mundo e reconhecer a ajuda incondicional que dão aos filhos para estes alcançarem o melhor futuro. A minha mãe sempre foi o meu pilar ao longo destes anos. Esta ligação com a P&G é muito importante pois dará à minha mãe a oportunidade de me acompanhar, oferecendo viagem, estada e bilhetes para a maratona. Vamos estar mais perto uma da outra, vou sentir ainda mais o seu apoio. Algo que até à data não foi possível concretizar. É a primeira vez que a minha mãe assiste a uma competição tão importante em que participo. E vai poder assistir a um momento para o qual tanto se dedicou. Estamos as duas muito contentes, ela principalmente que vê um desejo tornado realidade e que muito o merece. Sei que estará nervosa e ansiosa mas sobretudo feliz por me acompanhar numa das mais importantes provas da minha vida.