O centenário de Mário Cesariny de Vasconcelos (nascido a 9 de agosto de 1923) promete um banquete de iniciativas até setembro do próximo ano. E alguns desses momentos terão a marca do projeto Os Poetas. Já esta semana será lançado o disco de homenagem (em vinil e CD), O Homem em Eclipse, da autoria do grupo constituído pelos músicos Rodrigo Leão e Gabriel Gomes, com a voz do ator Miguel Borges e o fantasma de Cesariny “que vive eterno nas gravações”.
O álbum inclui cinco originais (três músicas e dois poemas declamados) e recupera temas deste longo percurso musical de quase três décadas pela poesia, neste caso a partir de Cesariny. “É uma emoção grande, sobretudo pelas memórias associadas”, confessa Rodrigo Leão à VISÃO. “Sempre ouvi muita poesia em casa, desde miúdo. De quatro rapazes, sou o mais velho. A minha mãe gostava muito do Villaret, chamávamo-nos a sala para ouvir os discos. Mas o Manuel Hermínio Monteiro [antigo editor da Assírio & Alvim] começou a dar-nos livros de poesia, éramos muito chegados. Ficámos fascinados com o Cesariny, que chegou a gravar um videoclip connosco na livraria da Assírio”.
Para já, há dois concertos agendados: 26 de novembro (Famalicão), este integrado numa série de iniciativas promovidas pela Fundação Cupertino de Miranda e que durarão vários dias; o outro será a 12 janeiro de 2024 (Cinema São Jorge, Lisboa). Os concertos abrem com o poema You Are Welcome to Elsinore. “Houve duas pessoas muito importantes para isto acontecer: o editor Manuel Rosa, guardião do antigo espírito da Assírio, e a Marlene Oliveira, diretora artística da Fundação Cupertino de Miranda, que nos cederam fotografias de quadros do Cesariny para fazermos a capa do disco e que também vamos utilizar ao vivo em alguns temas”, desvenda Rodrigo Leão.
Devoção à poesia
O projeto Os Poetas tem 26 anos e o disco que agora sai para a rua recupera outros temas desse percurso, mas agora tendo como ponto de partida a obra de Cesariny. “É um dos nossos poetas preferidos”, assume Rodrigo Leão. “A ideia nasceu a partir de umas gravações extraordinárias que o nosso grande amigo Hermínio descobriu, em que o Cesariny diz os seus próprios poemas. E na altura já deviam ter uns anos. Em 1997, fizemos um primeiro disco chamado Entre Nós e as Palavras, com poemas de Cesariny, Herberto Helder, Luíza Neto Jorge, Al Berto e outros. Tudo dito pelos próprios”.
Rodrigo Leão ainda se recorda de ter ido com Paulo Abelho, amigo de infância, também da banda Sétima Legião, a casa de Cesariny, na Rua Basílio Teles, em Lisboa, para gravar dois ou três poemas. Daí para cá, surgiram os espetáculos, convocando vários autoress. “Mas o Cesariny é o poeta que está mais presente nos nossos concertos. Tinha uma mente brilhante, à frente de muita gente”. Ei-lo, pois, de novo indomesticável, a andar por aí. Ouvem-no?