Alvar Aalto devia ter bem a noção do que é a posteridade. Deixou tantos escritos, guardou tantos desenhos, tirou tantas fotografias que, hoje, ao olhar para todos esses registos, é possível deduzir, com um certo grau de certeza, alguma coisa do seu modo de ser. Dos relatos que existem, sabe-se que, para ele, arquitetura e vida eram indissociáveis. Aliás, nada nem ninguém vivia isolado dos restantes elementos, aqui residindo o objetivo principal da sua arte: “A arquitetura deve ter os meios para resolver o problema da ligação de um edifício com a Natureza.” Não raras vezes, colegas, sócios e amigos também coincidiam nos papéis. Carismático, dominava muitas línguas e era um bom conversador. Achava que a vida era sobretudo para ser vivida.
Nada disto, porém, estava relacionado com exuberância e ostentação. Aalto interessava-se pelo bem-estar e até pelo lado boémio da vida, mas manteve sempre a escala humana como referência. Sustentou, num discurso que proferiu em 1957, em Londres: “Devemos trabalhar para termos coisas simples, boas, sem enfeites, mas que estejam em harmonia com o ser humano e organicamente com o homem da rua.” Teve uma vida longa, o que lhe permitiu atravessar quase todo o século XX (talvez tenha vindo daqui o seu apurado sentido da História…). Dos edifícios projetados às viagens realizadas, captou muito do que viveu – como se adivinhasse que estes registos viriam, muitos anos mais tarde, a ser úteis aos que agora pretendem compreender-lhe o perfil e a obra.