“Ninguém existe sozinho”, assegura Luís Pardelha, da direção da APEFE, Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, a responsável pela manifestação-espetáculo que está organizada para o interior do Campo Pequeno, em Lisboa, no sábado, dia 21, em horário matinal, que é aquele que agora nos resta para estas coisas.
“Ninguém existe sozinho”, insiste este empresário da área, fundador da Produtores Associados, que agencia artistas e trata de pô-los em cima de palcos. “Estamos num ecossistema e por isso o nosso manifesto pela sobrevivência da cultura em Portugal fala pelo mercado todo, desde músicos a técnicos.”
Na realidade, desde que em março foram proibidos os espetáculos, que ficaram todos presos no mesmo barco – os problemas, gravíssimos, tornaram-se transversais, pois ninguém conseguiu trabalhar durante mais de três meses. E se há setor que vive de recibos verdes e de uma agenda carregada na época de verão e mais leve no outono-inverno é este. Depois, quando em junho se abriram de novo as portas, a realidade tinha mudado por completo: o público passou a estar todo sentado e capacidade das salas reduziu-se em 50 por cento. Resultado? Quebras de faturação na ordem dos 87% em relação a 2019. Nem é de estranhar, se este foi um ano sem grandes eventos, sem festivais, sem festas da cidade, sem noite, sem dança…
“Hoje fazemos espetáculos para mostrar que estamos vivos e não para ganhar algo com isso. Por exemplo, no último concerto que organizámos, da Lena d’Água, no teatro Maria Matos, vendemos 240 lugares a 15 euros. É fazer as contas”, nota Luís Pardelha.
De notar também que não existem ajudas específicas para este setor, que abrange 130 mil pessoas, segundo dados do INE de 2018, apenas as que são transversais a toda a sociedade, como o lay off simplificado, as moratórias ou o subsídio para trabalhadores independentes. Estas medidas são manifestamente insuficientes para quem ficou – e em alguns casos ainda está – com faturação a zeros.
Foi por causa das situações desesperadas que surgiram com a pandemia que foi criada a União Audiovisual, para apoiar as pessoas do meio que perderam o seu sustento na primavera, precisamente na altura em que o que armazenam durante o tempo quente está a chegar ao fim. A recolha, unicamente de bens alimentares, faz-se normalmente à porta dos locais de espetáculo, como foi o caso, por exemplo, do tal concerto da Lena d’Água. E tem matado a fome a muita gente.
No sábado, às 10h30, há que ir à bilheteira do Campo Pequeno, levantar a entrada para assistir a esta manifestação, sentado numa das duas mil cadeiras, com o devido distanciamento social. Pelo palco, passarão alguns nomes, como o ilusionista Luís de Matos, o ator José Raposo ou o músico Ricardo Ribeiro. que irão usar da palavra, chamando a atenção para os problemas específicos do setor. Serão ainda transmitidos alguns vídeos, com a mesma finalidade.
A ideia é que o público não se retraia e perceba que a cultura é segura. Mas principalmente que o Governo veja esta parcela da sociedade de forma diferente do que quando olha, por exemplo, para a indústria, que nunca foi obrigada a parar. “Só queremos que a bazuca que aí vem não falhe a mira. Sem ajuda, a cultura vai morrer, porque quando isto reabrir completamente corremos o risco de as pessoas já cá não estarem.” Ninguém existe sozinho, lá está.