Os protagonistas são os tigres, mas os heróis são dois homens. Tigerland, que estreia às 22h de segunda-feira, 1 de abril, no Discovery Channel, é a história de um russo e um indiano que, separados geográfica e temporalmente (Kailash Sankhala morreu em 1994), dão a vida pela mesma causa: a salvação dos últimos tigres do planeta.
Pelos olhos destes dois homens, o último documentário de Ross Kaufmann (apresentado em Sundance em janeiro) traça o retrato do apocalipse do maior felino do mundo, que nas últimas décadas viu a sua população passar de 100 mil animais para cerca de 4 mil.
A VISÃO publica, em exclusivo para Portugal, uma entrevista ao realizador (galardoado com um Oscar pelo seu documentário Born into Brothels, sobre a vida dos filhos das prostitutas de Calcutá, Índia) e ao produtor de Tigerland, Xan Parker.
Os tigres não são as únicas espécies ameaçadas na Terra. Qual foi a principal motivação para filmar um documentário sobre a conservação do tigre em particular?
Ross Kauffman: Em 2016, a Discovery fez uma parceria com o World Wildlife Fund (WWF) para o Projeto C.A.T [Conserving Acres for Tigers, que se poderia traduzir por “conservar hectares para tigres”]. O objetivo do projeto é garantir um habitat saudável para as futuras gerações de tigres, prometendo inicialmente um milhão de acres [400 mil hectares] na Índia e no Butão, que cresceram para dois milhões de acres [800 mil ha].
O Discovery falou comigo sobre a criação de um filme independente que se pudesse encaixar na iniciativa e funcionasse como uma ferramenta para envolver as pessoas e ajudar a criar mudanças. Durante a pesquisa, os meus produtores foram inspirados pela iniciativa T2, um esforço global para dobrar a população de tigres até 2024. Tornou-se claro para mim que se impunha um documentário como este. Falámos com gente e organizações de todo o mundo determinadas em salvar os tigres e chegámos a duas histórias fascinantes, uma na Rússia e outra na Índia, em torno das quais focámos o filme.
Qual foi a coisa mais surpreendente que descobriram sobre os tigres durante as filmagens?
Xan Parker: Não foi realmente uma surpresa, mas é bom recordar que as fêmeas e as crias são a chave. Kailash Sankhala foi uma das figuras desta forma de pensar, e Pavel Fomenko e os seus colegas estão tão comprometidos com isso hoje.
RS: Outra das coisas mais interessantes que aprendi ao longo desta viagem é que o problema com a população de tigres não é apenas um resultado da caça furtiva, mas é, em última análise, um problema de preservação de habitats. Se o tigre tiver terra suficiente e presas suficientes, irá prosperar. Os tigres reproduzem-se, realmente, como gatos, por isso, se estiverem protegidos, a população aumenta.
Há uma citação do trailer que diz: “Ao salvarmos os tigres, podemos salvar-nos a nós próprios.” O que querem dizer com isso?
XP: O mundo inteiro é afetado pelos comportamentos da humanidade. Do colonialismo à industrialização, da forma como usamos os recursos naturais às migrações causadas pelas mudanças climáticas resultantes – pomos em risco a vida selvagem com quem partilhamos este planeta. Mas, se fizermos o trabalho necessário para salvar uma espécie como o tigre, esse mesmo esforço servirá para ajudar a proteger o planeta para a humanidade.
Estavam perto dos tigres enquanto filmavam o documentário? Passaram por alguma situação fisicamente perigosa?
RK: Ao planear o filme, estávamos cientes de que os tigres são extremamente difíceis de detetar na natureza, e portanto sabíamos que tínhamos de estar sempre prontos. Acabámos por ter muita sorte e vimos vários tigres nas selvas indianas, além de nos termos aproximado dos tigres do extremo oriente russo. Mas nunca nos sentimos em perigo, porque estávamos sempre com especialistas em conservação e eles eram muito cuidadosos quanto à segurança. A experiência deles é que nos permitiu filmar o que precisávamos de filmar de uma forma que não nos colocasse em perigo.
Durante as filmagens, qual foi a vossa experiência mais profunda sobre os tigres e sobre as pessoas que tentam salvá-los? Conhecê-los ajudou a mudar-vos de alguma forma?
XP: Uma coisa que sempre soubemos, e que confirmámos, é que, como os caçadores estão muito próximos da natureza, alguns são dos maiores conservacionistas que existem. Todas as culturas são diferentes quando se trata de algo como a caça, claro, mas no extremo oriente russo caçar é ganhar a vida e sobreviver. Na verdade, os caçadores que conhecemos foram os que mais se preocuparam em tratar da floresta – a taiga – com responsabilidade.
É possível repovoar o extremo oriente russo com tigres?
RK: Não só é possível como já está a acontecer. Várias organizações conservacionistas, algumas das quais aparecem no filme, têm estado a fazer um trabalho fantástico, trazendo de volta a população de tigres que existia há quase 30 anos. Agora, o Discovery e o WWF dos EUA estão de olho no mais recente e maior parque nacional da Rússia, o Bikin, que aparece no filme. O objetivo é apoiar a população de tigres dentro de 3,7 milhões de acres [1,5 milhões de hectares] e financiar totalmente o parque até 2022.
De que modo a extinção das espécies afeta a humanidade e o nosso ecossistema em geral?
XP: Qualquer extinção de uma espécie é uma prova do que é habitualmente chamado de “a sexta extinção em massa” – que é aquilo por que estamos a passar atualmente. É a primeira extinção em massa causada pelo homem.
O que esperam que o público interiorize, ao assistir ao documentário?
RF: O meu único objetivo é mostrar a paixão das nossas personagens em salvar os tigres. Se conseguirmos que as pessoas se apaixonem pelas nossos personagens e por essa paixão, então a minha esperança é que o público se sinta motivado para ajudar a salvar os tigres da forma que fizer mais sentido para cada um. A chave é criar um sentido partilhado de amor e paixão ela salvação do tigre.
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