21 Lições para o Século XXI é o terceiro livro de Yuval Noah Harari, após os colossos Sapiens: História Breve da Humanidade e Homo Deus: História Breve do Amanhã, Nele, o investigador israelita contempla o momento presente e o futuro imediato, sem recorrer à narrativa histórica. Prefere, antes, um modelo de lições arrumadas em cinco partes, versando conceitos familiares ao seu corpo de trabalho (as ameaças da bioengenharia, a “religião” do Dataísmo) mas também temas atuais (os nacionalismos, os desafios ecológicos, o Brexit, as fake news). Eis algumas lições importantes:
O Desafio Tecnológico _ “Quando fores grande, talvez não tenhas uma profissão”
“Nenhum emprego humano remanescente estará completamente a salvo da ameaça da automatização futura, porque a aprendizagem automática e a robótica vão continuar a melhorar. Um caixeiro de supermercado com 40 anos que, através de um esforço sobre-humano, consiga reinventar-se como piloto de drones talvez tenha de se reinventar novamente dez anos mais tarde, pois é provável que a pilotagem de drones também se torne automatizada. Esta volatilidade dificultará igualmente a formação de sindicatos e a garantia de direitos laborais. Hoje, já temos muitos empregos em economias avançadas que implicam trabalho temporário sem proteção laboral, trabalho por conta própria e trabalhos esporádicos. Como sindicalizar uma profissão que, como um cogumelo, surge do nada e desaparece ao fim de uma década?”
O Desafio Político – Nacionalismo
“A onda nacionalista que se tem espalhado pelo mundo não pode reverter o calendário para 1939 ou 1914. A tecnologia mudou tudo ao criar um conjunto de ameaças existenciais que nenhum país consegue resolver sozinho. Um inimigo comum é o melhor catalisador para a criação de uma identidade comum, e a Humanidade, agora, tem pelo menos três inimigos desses: guerra nuclear, alterações climáticas e disrupção tecnológica. Se, apesar destas ameaças partilhadas, os seres humanos optarem por dar mais valor às lealdades nacionais de cada um do que a tudo o resto, as consequências podem ser muito piores do que foram em 1914 e 1939.”
Desespero e esperança: Terrorismo, não entrar em pânico
“Embora o terrorismo do presente seja sobretudo teatro, o terrorismo nuclear, o ciberterrorismo e o bioterrorismo do futuro podem representar uma ameaça muito mais séria e que exigirá reações muito mais drásticas por parte dos governos. Precisamente por causa disso, devemos ter muito cuidado em distinguir esses hipotéticos cenários futuros dos ataques terroristas que testemunhámos até aqui. Recear que os terroristas, um dia, consigam obter uma bomba atómica e destruir Nova Iorque ou Londres não justifica uma reação histérica a um terrorista que mata uma dezena de transeuntes com uma metralhadora ou os atropela com um camião.”
Verdade: “Certas notícias falsas duram para sempre”
“Sei que muitas pessoas podem ficar incomodadas com o facto de eu pôr a religião e as notícias falsas no mesmo plano, mas é exatamente aí que quero chegar. Quando mil pessoas acreditam numa história inventada durante um mês, chamamos-lhe fake news. Quando mil milhões de pessoas acreditam nisso há mil anos, dizemos que isso é uma religião e é-nos dito que não devemos chamar-lhe ‘notícias falsas’ para não ferir os sentimentos dos crentes (ou despertar a sua ira). Note-se, porém, que não estou a negar a eficácia ou a potencial benignidade da religião. Precisamente o oposto. Para o melhor e para o pior, a ficção conta-se entre as ferramentas mais eficazes do estojo de ferramentas da Humanidade.”
Resiliência: Crenças modernas
“A história liberal diz-me que procure a liberdade para me exprimir e para me realizar. Mas tanto o ‘eu’ como a liberdade são quimeras mitológicas saídas de contos de fadas dos tempos antigos. O liberalismo tem uma noção particularmente confusa de ‘livre-arbítrio’. Os seres humanos, evidentemente, têm vontade, têm desejos e, por vezes, são livres de cumprir esses desejos. Se por ‘livre-arbítrio’ entendermos a liberdade de fazer o que se deseja, então, sim, os seres humanos têm livre-arbítrio. Mas se ‘livre-arbítrio’ significar a liberdade de escolher aquilo que se deseja, então, não, os seres humanos não têm livre-arbítrio.”