Um medicamento para a dor aguda em doentes com cancro foi a causa da morte de Prince, revelou a autópsia. O músico norte-americano não resistiu a uma sodredosagem de Fentanil, um analgésico que autoadministrou e causou o “acidente”, concluiu o médico legista responsável.
Hoje catalogado pela Agência Europeia do Medicamento na área terapêutica da dor cancerígena, o Fentanil começou por ser usado em anestesias gerais em algumas operações. É um analgésico opióide de curta duração mas com atuação quase imediata, 80 a 100 vezes mais poderoso do que a morfina. Uma quantidade equivalente a três grãos de açúcar pode ser fatal.
É tão forte que os traficantes de droga começaram a usar a substância para potenciar o efeito da heroína, criando aquilo a que no México passou a ser conhecido como “o pequeno diabo”, uma droga que está a ganhar terreno à heroína – segundo um documentário do canal norte-americano Fusion, exibido em janeiro, que contou com a colaboração da jornalista portuguesa Mariana van Zeller.
No início dos anos 90, o Fentanil já era uma preocupação no combate ao tráfico de droga, até em Portugal. O regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e psicotrópicos, assinado em Dezembro de 1992 por Mário Soares, então Presidente da República, e Cavaco Silva, à época o primeiro-ministro, previa uma pena de 4 a 12 anos de prisão para quem “preparar, oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder, proporcionar a outrem, transportar, importar, exportar” um conjunto de sustâncias nas quais constava (e ainda consta) o Fentanil.
Prince não tinha fama de consumidor de drogas duras convencionais – como a cocaína ou a heroína -, mas várias pessoas que com ele conviveram falam numa adição a comprimidos. No mês passado, uma semana após a sua morte e quando ainda não era conhecido o resultado da autópsia, um dos seus alegados fornecedores dizia ao Daily Mail que chegou a entregar ao músico encomendas no valor de 40 mil dólares, incluindo Fentanil.
“Conheci o Prince em 1984 e ele já era viciado em opióides”, contou o homem, sob anonimato, justificando a suposta adição do músico com o facto de sofrer de ataques de ansiedade e medo de lidar com as multidões dos concertos.
Com o resultado da autópsia agora conhecido, a morte do cantor de Purple Rain torna-se um caso de polícia, uma vez que nem as fortes dores que alegadamente o cantor sofria na anca – consequência de uma intervenção cirúrgica – seriam justificação para algum médico lhe prescrever Fentanil. Seja quem for que lhe tenha fornecido a substância, cometeu um crime e arrisca uma pena de prisão de vários anos se vier a ser descoberto.