Três mil e seiscentos metros. Foi esse o número mágico do “auge da aventura astronáutica” de Miguel Palma. Estávamos em 1976, ele tinha 12 anos. O momento era importante, talvez decisivo. Cenário: Cabo Raso, no Guincho, num dia de pouco vento. Um verdadeiro foguetão, preparado por Miguel e um amigo, subiria no ar. Cá em baixo, de nariz levantado, um grupo de miúdos suspendia a respiração. Subindo, subindo muito no céu, aquele objeto estava, afinal, habitado. Lá dentro, numa cápsula, um pequeno hamster devia estar a pensar que mal teria feito ao dono para merecer um tal castigo, e a ver a sua monótona vida de rato a passar-lhe à frente dos olhos com a mesma rapidez com que se afastava da superfície do planeta. Subiu 3 600 metros, e seria um dos heróis do dia, ao aterrar em segurança, algures no mato, com a ajuda de um paraquedas cor de laranja; como nos filmes, os pedaços do foguetão cairiam no mar. O hamster demoraria algum tempo a voltar à Terra. Depois, foi preciso encontrá-lo. “Está aqui! E está vivo!”, anunciou uma das muitas primas mais novas de Miguel que assistiam ao grande evento. Missão cumprida.
Miguel Palma, Ode triunfal
Podemos inventar um mundo para vivermos nele. O do artista plástico Miguel Palma, com as suas máquinas, viagens, sons, humor e ironia, encanto e desencanto, com as mais úteis das inutilidades, nunca esteve tão exposto como agora, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, até 3 de julho. Para todos. Visita guiada em movimento. VEJA AS FOTOS e os VÍDEOS