Em Red Perigosos, de Robert Scwentke, há um duelo insólito e desequilibrado. Numa das muitas cenas de ação, John Malkovich empunha uma pistola. No outro extremo surge uma mulher com uma bazuca. Fixam-se nos olhos. Ele não está nervoso. Não treme, não hesita, não teme. Ele sabe que vai acertar precisamente no centro do projétil, assim que for lançado, fazendo-o explodir na cara da adversária. Este é um tipo de humor, ligado ao género de filme de ação. Bruce Willis, o protagonista, é especialista no estilo: sabe que as melhores piadas dizem-se quando se está entre a vida e a morte.
Esta é a graça de Red. E não só. O antagonista (Chris Owens) telefona para casa a avisar que já não demora muito enquanto enforca um desgraçado. É aquela ideia do Pulp Fiction que ser assassino é uma profissão como outra qualquer. Que por debaixo do peito de um assassino também bate um coração.
É mesmo pelo coração que se prende George Clooney, em O Americano, o segundo filme de Anton Corbinj, a sua primeira grande produção. O que Red inflige pelo humor, O Americano dá-nos pela poesia. A ideia, lugar-comum dos filmes do género, é que, à parte de ser um assassino, ele nem é um mau rapaz. Nem poderia ser… No final de contas, é o George Clooney. Quando a sangue frio mata a namorada, entre a neve na Suécia, depois de um constrangimento inicial, não nos importamos com o seu abruto desaparecimento, o que nos preocupa é o coração solitário do monstro, que por absurdas circunstâncias da vida, é condenado à solidão e ao desamor. Ele é capaz de matar a sangue frio pessoas inocentes e mulheres bonitas… Mas não é mau. Apenas anda perdido. E tudo o resto são ossos do ofício.
Quando, já em Itália, aparece a personagem do padre, percebemos claramente que este é um filme sobre a redenção. Porque há uma insaciável busca do amor, que se torna impossível, porque o amor e a morte se aproximam perigosamente.
Bruce Willis, em Reds, também é um perigoso homem apaixonado, só que tem a confiança de um herói de BD, que pelo seu estatuto já sabe que não vai morrer, mesmo que dance na linha de fogo com a namorada ao colo. Em O Americano o conflito é interior e tumultuoso. O herói precisa de amor.
A questão da idade é transversal aos dois filmes, sinal talvez que os nossos atores/heróis estão ficar velhos e a renovação tem sido pouco eficaz. Lembremo-nos que, há tão pouco tempo, juntaram-se os veteranos Silvester Stalone, Arnold Scwarzneger e o próprio Bruce Willis, para Os Mercenários.
Nestes dois filmes, as personagens de Bruce Willis e George Clooney têm em comum a necessidade de assentarem na vida, fruto, naturalmente, de uma crise da idade. Ambos procuram o amor de forma insólita.
Em Red a lista de veteranos acentua o lado cómico, como o bom gosto e humor que faltou a Os Mercenários. Sobretudo nos papéis de Helen Mirren e Morgan Freeman.
Em O Americano, ficava a curiosidade da forma como Corbinj iria tirar partida da sua valia de fotógrafo. Sem uma ótica tão cerrada como em Control (a sua biografia de Ian Curtis) encontra o deslumbre fotográfico na neve sueca e na belíssima Itália onde centra a ação. Com alguma surpresa, Corbinj não se escusou a pincelar o filme com mel, para atrair mais público, com cenas de sexo prolongadas, mulheres bonitas e o George Clooney a fazer flexões em tronco nu. Uma espécie de James Bond à beira da reforma. Tal como os bailarinos, os jogadores de futebol, os assassinos e os agentes secretos reformam-se cedo.