Em tempo recorde, os americanos vampirizaram um filme de vampiros sueco, sugaram-lhe o sangue, e fizeram um clone. Deixa-me entrar, a segunda longa de Matt Reeves, é decalcada de Deixa-me entrar, o aplaudido filme de Thomas Alfredson, mais coisa menos coisa. Ou melhor, menos coisa.
A questão era saber se Reeves iria fazer um remake ou uma nova adaptação do romance de John Ajvide Lindqvist. Fez um remake. Transportou a ação da neve da Escandinávia para a neve do Novo México e os diálogos do impercetível sueco para o universal inglês. De resto, deu um bocadinho mais de protagonismo ao detetive, evitou uma cena ou outra, e mais nada se alterou. Este novo deixa-me entrar é de uma redundância absurda. É só para americano ver.
Os largos milhares de pessoas que vão ver a versão americana sem passar pelo original sueco vão, muito provavelmente, render-se ao filme. Porque parte de uma obra-prima do género. E não há nada que se lhe possa apontar: está muito bem filmado, tem bons atores, um argumento notável. É uma história que ultrapassa o domínio do género em que se insere. Porque é, acima de tudo, uma lindíssima e comovente história de amor. De um aparente pai que mata para alimentar a filha, de dois pré-adolescentes que se apaixonam contra o mundo que resulta na fuga do próprio mundo que é cruel (o bullying é uma quetsão). Os pormenores e o deslumbre estático é superior no original.
Ninguém duvida do sucesso comercial do re-make, mas, verdade seja dita, em termos artísticos não nos serve de muito. É como escrever Os Lusíadas em inglês e achar que se fez uma obra prima.