Não é a primeira vez que Agnés Varda, “a avó da Nouvelle Vague”, vem a Portugal, mas é a sua estreia, enquanto autora de instalações. Depois da retrospectiva da sua obra na Cinemateca, no âmbito da Festa do Cinema Francês, em Lisboa, e antes da inauguração das exposições em Serralves, no Porto, Agnés, 81 anos, encontrou-se com jornalistas na Embaixada de França. Falou-se da sua cinematografia em marcha-atrás, tal como ela a apresenta no último e autobiográfico filme As Praias de Agnés. E de como ela se manteve sempre num registo experimental e marginal, às vezes híbrido, entre o documentário e a ficção, ao sabor da inspiração, deixando sempre uma janela aberta. Para deixar passar as correntes de ar e o acaso – a que ela chama o seu “assistente de realização”. Por isso, Agnés Varda gosta que se diga que os seus filmes têm “inspiração e respiração”. E não deixa de pensar que a mesma pessoa que faz filmes sobre vagabundos e respigadores fica instalada em bons hotéis e tem sempre um bouquet à espera. Considera-se “artista e artesã”, pela forma quase manual com que se dedica aos filmes, gosta de “partilhar emoções e conhecimentos” e admira Manoel de Oliveira por continuar a filmar: “É um caso médico”. Quanto a ela, não pretende “ser heroína”. “Procuro adaptar-me às minhas capacidades, consciente das minhas forças e fraquezas”. Prefere dedicar-se às video-instalações: a próxima, de apenas sete minutos, chama-se La Mer Mediterranée Avec Deux R et un N Entre Sete et Agde. De resto, continua a vaguear entre a memória e a falta dela, “como nas águas de um rio”: “Je souviens pendant que je vis”.