O PCP não vai estar na sessão solene que se vai realizar este ano pela primeira vez na Assembleia da República para celebrar o 25 de Novembro. Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, diz que se trata de uma tentativa de reescrever a História, mas está sobretudo preocupado com um processo de desmantelamento das conquistas do 25 de Abril, que acredita ter como objetivo “transferir o máximo da propriedade social para o grande capital”.
“Não desvalorizando a necessidade de combater a reescrita e falsificação da História, o essencial não é nesta ocasião de demonstrar o que o 25 de Novembro foi ao contrário do que dizem ter sido (um golpe contrarrevolucionário e não um contragolpe)”, disse Paulo Raimundo numa sessão sobre privatizações no Centro de Trabalho Vitória, em que apontou as privatizações dos últimos 48 anos como instrumentos para reverter o processo de conquistas de direitos sociais de Abril.
As “dinâmicas antagónicas” de 1976 que ainda persistem
“Depois de 1976, o processo político português é marcado por duas dinâmicas antagónicas: por um lado as energias libertadas pela Revolução e pelas nacionalizações, a fazer avançar o País, e por outro lado, a ação contrarrevolucionária, a querer reverter, inverter as conquistas da Revolução”, declarou o secretário-geral do PCP, defendendo que essa dinâmica continua hoje.
“À sombra das privatizações muitos dos principais protagonistas do PSD, do CDS, do PS, mas também do Chega e da IL, encontraram guarida em conselhos de administração e lugares cimeiros de muitas destas empresas. Este processo leva 48 anos. Mas não está concluído. E essa é uma tarefa a que o atual Governo do PSD e CDS se propõe”, denunciou, num discurso no qual fez o retrato das privatizações na comunicação social, na banca, na saúde e agora na TAP como processos marcados pela “mentira, a falta de transparência, a corrupção massiva”.
“Elas foram ótimas para as grandes famílias e para as multinacionais. À sombra das privatizações enriqueceram um conjunto de intermediários pelo papel que tiveram no processo ou pela colocação que alcançaram no modelo liberalizado, como consultores ou reguladores ou gestores da acumulação privada de capital”, atacou o comunista, que acredita que, além da venda da TAP, estão em curso políticas na RTP, na CP, nos portos e nas águas que procuram enfraquecer o serviço público e abrir as portas aos privados.
E é por isso que Raimundo diz que “neste momento o que importa é destapar e expor a operação que está por detrás das chamadas comemorações do 25 de novembro que a direita mais reacionária há muito enseja e que decidiu tentar impor”.
“As forças da revanche querem rescrever a História”
“O que está por detrás da iniciativa dos que suportam o Governo da PSD/CDS, com o apoio dos seus sucedâneos da IL e do Chega e a cumplicidade e anuência de outras forças políticas, é relançar a ofensiva contrarrevolucionária contra Abril e legitimar as suas próprias opções e política destruidora”, considera, lembrando que o 25 de novembro acabou por não levar, como queriam alguns dos seus promotores, à ilegalização do PCP.
“As forças da revanche querem rescrever a História, e apresentar o 25 de novembro, não pelo que foi, mas pelo que desejariam que tivesse sido de regresso ao passado de meio século de ditadura fascista”, argumentou, notando um “indisfarçável saudosismo, um revés reacionário” por trás de que quer hoje celebrar a data equivalendo-a ao 25 de Abril.
“O PCP rejeita a operação em curso e os seus objetivos antidemocráticos de desvalorização e apagamento do 25 de Abril, de promoção de conceções e projetos reacionários”, disse para anunciar que o grupo parlamentar comunista não estará na sessão, como já não esteve na comissão constituída para definir os moldes desta celebração.
“Não serão as comemorações do povo”
“É Abril que deve ser comemorado enquanto o momento mais marcante da nossa história e não o que contra ele se arquitetou de conspirações, golpes e práticas que o negam e pretendem desvalorizar. É essa luta para afirmar os valores de Abril que vamos prosseguir”, prometeu Paulo Raimundo.
Raimundo acredita mesmo que, a celebração ficará entre as paredes do Parlamento por não ter apoio popular. “Não serão as comemorações do povo, porque essas são e só as de Abril. E é com o povo que o PCP está, o povo que este ano em Abril encheu a Avenida da Liberdade e tantas praças e avenidas deste País a comemorar os 50 anos da Revolução Portuguesa”.