“Estamos a assistir a uma alta percentagem de casos positivos a serem admitidos nas nossas unidades de terapia intensiva, cerca de 10% de todos os pacientes positivos. Desejamos transmitir uma mensagem forte: Preparem-se!”.
O apelo chegou por carta enviada à Sociedade Europeia de Medicina Intensiva pelos especialistas e professores da Universidade de Milão Maurizio Cecconi, Antonio Pesenti e Giacomo Grasselli, onde relatam as dificuldades em lidar com o surto de Covid-19 em Itália e tratar os pacientes contaminados. “Estamos a registar um número muito alto de admissões nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), quase todas devido a falências respiratórias agudas que exigem ventilação mecânica”, alertam os especialistas na mensagem divulgada há dias e que está a agitar a comunidade médica europeia.
Nesta carta de alerta, deixam 10 pontos com recomendações importantes para os médicos de todo o mundo:
- Preparem-se já – com as vossas Unidades de Cuidados Intensivos – de forma a definir um plano de contingência caso exista um surto na vossa comunidade.
- Não trabalhem “em silos”. Coordenem com as vossas equipas administrativas hospitalares e outros profissionais de Saúde para preparar a vossa resposta.
- Garantam que as vossas equipas de gestão têm um protocolo definido para garantir stock de equipamentos de proteção pessoal.
- Garantam que as vossas equipas estão treinadas para procedimentos de por e tirar [os equipamentos de proteção pessoal].
- Usem a educação, o treino e a simulação o mais possível.
- Identifiquem hospitais primários que possam gerir os surtos em fase inicial de forma segura
- Aumentem as vossas capacidades de UCI.
- Preparem-se para criar UCI de isolamento para Covid-19 em todos os hospitais se necessário.
- Definam um protocolo de triagens para identificar os casos suspeitos, testá-los e dirigi-los para as unidades certas de isolamento Assegurem-se que são definidos objetivos claros de como cuidar dos doentes e das famílias numa fase inicial.
- Assegurem-se que são definidos objetivos claros de como cuidar dos doentes e das famílias numa fase inicial.
Médicos “desesperados”
A situação dos médicos italianos começa a preocupar a comunidade em toda a Europa. À CNN, dois médicos relataram uma situação caótica e equipas à beira de um colapso. “Estamos a trabalhar quatro a cinco dias continuamente!”
Um especialista inglês citado pelo Independent diz que a carta dos médicos italianos é preocupante. “Vai ser difícil. A minha preocupação é que muitos médicos e enfermeiros fiquem doentes, isso seria uma crise. Se um terço das equipas ficarem isoladas, deixaremos de conseguir responder”.
Itália, um surto galopante
Itália é o quarto País do mundo onde o surto inspira mais cuidados, a seguir à China, Coreia do Sul e ao Irão. Regista, segundo os últimos números de 7 de março, 5883 casos, 233 mortes e 567 doentes em estado crítico. A evolução foi muito rápida: os infetados mais do que duplicaram em duas semanas, quando os registos oficiais mostravam apenas 2500 casos confirmados.
Este acréscimo tão significativo fez com que fossem determinadas medidas de segurança e contingência apertadas: foi imposta quarentena obrigatória a mais de 16 milhões de pessoas, sendo suspensos os eventos culturais, recreativos, desportivos e religiosos, tanto em locais públicos como privados. Foi ainda determinado o fecho de escolas, museus, centros culturais, estações de esqui, piscinas, ginásios e termas. Esta medida abrange Modena, Parma, Piacenza, Reggio Emilia, Rimini, Pesaro, Urbino, Veneza, Pádua, Treviso, Asti e Alessandria.