Uma investigação de mais de 120 jornalistas em 20 países, liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, revelou hoje esquemas financeiros de desvio de dinheiro público para Isabel dos Santos. As notícias reveladas ao fim da tarde em vários órgãos de comunicação internacionais, entre os quais o Guardian, o New York Times, a BBC e o Expresso em Portugal, trazem detalhes sobre como Isabel dos Santos terá desfalcado o património angolano, beneficiando de oportunidades extraordinárias antes de o seu pai sair de Presidente, em setembro de 2017.
O Luanda Leaks assenta numa revelação de mais de 715 mil ficheiros (emails, extratos bancários, contratos e documentos vários) partilhada com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, pelo PPLAAF, uma associação que apoia whistleblowers em África.
As revelações do Luanda Leaks
Segundo o Guardian, os documentos revelados sugerem que:
1. A Sonangol vendeu a Dokolo, marido de Isabel dos Santos, o que se transformou na participação mais valiosa do casal: a participação na Galp, que vale hoje 750 milhões de euros.
2. Pagamentos feitos a partir de Portugal no valor de 115 milhões a firmas de consultoria, ordenadas enquanto Isabel dos Santos era presidente da empresa, através de uma empresa no Dubai controlada pelos seus associados.
3. Uma parceria com a empresa pública de diamantes que alegadamente resultou em 200 milhões de dólares de dívida pública, em benefício de uma marca suíça de joalharia detida por Dokolo.
4. Duas empresas de Isabel dos Santos e subcontratadas recolheram quase 500 milhões de dólares em fees de um projeto imobiliário para Luanda, que seria mais tarde cancelada pelo novo presidente por compensação desproporcionada.
A chamada Princesa de Angola, filha do homem que governou Angola durante quase 40 anos, tem nos últimos dias feito sucessivas declarações negando que a sua fortuna estimada em 2,2 mil milhões de dólares seja resultado de nepotismo e corrupção.
Sobre estas acusações do Luanda Leaks, disse à BBC África que o governo angolano estava a apresnetar uma série de documentos altamente seletivos e até fabricados para a incriminar: “Hoje deparo-me com acusações que são completamente falsas. Estas alegações não têm qualquer fundamento, e são totalmente motivadas politicamente”.
115 milhões de dólares para Isabel
Entre maio e novembro de 2017, nos últimos meses do seu mandato à frente da Sonangol, Isabel dos Santos mobilizou influências de forma a que a petrolífera transferisse pelo menos 115 milhões de dólares de fundos públicos para a conta bancária de uma companhia offshore no Dubai. Esta empresa, a Matter Business Solutions, é controlada pelo principal advogado da empresária angolana, o português Jorge Brito Pereira, sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho, relatam o Expresso e a Sic. Estas transferências, efetuadas pelo banco Eurobic em Lisboa, foram justificadas como pagamento de serviços de consultoria prestados à Sonangol.
Deste dinheiro, 57 milhões de dólares foram transferidos já horas depois de a empresária angolana ter sido demitida por João Lourenço da sua função de presidente da Sonangol, a 15 de novembro.