Depois de uma noite quase toda em branco, acompanhando o vai-vem de polícias e ambulâncias, Fernando Calado perdeu o pouco ânimo que tinha para sair de casa quando, logo pela manhã, chegou à porta do seu prédio. Olhou para o chão e, pelas valetas, em vez de água corria sangue.
Fernando tem 53 anos, é ribatejano, natural de Tramagal, Abrantes, e está emigrado em Paris desde os anos 1980. Hoje gere a sua própria empresa de construção e mora no 11º distrito, bem no centro da cidade, num prédio que partilha a parede com o fundo do palco da sala de espetáculos Bataclan – o local onde ontem se registou o maior número de mortes, na sequência dos ataques planeados pelo Estado Islâmico naquela cidade.
Uma dessas vítimas será a rapariga com quem teve pesadelos, nos poucos minutos em que conseguiu dormir. Ficou impressionado com os seus gritos “agudos e horríveis”, dizendo “não”… até que ouviu um tiro. E nunca mais ouviu a voz daquela mulher.
Mais tarde ouviria de novo tiros e mais explosões. Quando um dos terroristas acionou um cinto de explosivos, o prédio “abanou todo”.
Fernando Calado conta-nos como viveu as últimas 24 horas, transformado em testemunha involuntária do maior atentado terrorista em solo francês.