Por: Ana Rita Coelho
Estamos em 2021 e um dos temas mais importantes da agenda mediática é a saúde física e mental. Mas se agora é uma preocupação, em 2018 – quando éramos verdadeiramente felizes e não sabíamos – também já o era. Karen Baikie, psicóloga clínica, e Kay Wilhelm, professora especialista em psiquiatria, realizaram um estudo, publicado pela Cambridge University Press, sobre os benefícios da escrita expressiva na saúde física e mental. A população estudada foi desafiada a transcrever eventos traumáticos, stressantes e emocionais que tivesse vivido, em cerca de cinco ocasiões, durante 15/20 minutos. Resultados como menos stress, pressão arterial reduzida, humor melhorado, memória aprimorada e maior bem-estar psicológico foram alguns dos benefícios mais apontados pela população em análise.
Para entender mais sobre a escrita expressiva e sobre os efeitos da mesma em cada indivíduo, a PRIMA falou com Joana Coelho, psicóloga com maior intervenção na área clínica e da saúde, fundadora da empresa PsiqEvo e responsável pelo blog de desenvolvimento pessoal A Psicóloga lá de casa.
Definir o journaling
Não existe tradução direta do termo para português, e o mais correto será chamar-lhe ‘escrita de um diário’. Trata-se de uma técnica de escrita diária, que tem como objetivo registar experiências e trabalhar as dificuldades pessoais de cada um, sendo um ponto de crescimento pessoal, e não só um típico diário de registo casual. Joana Coelho explica que nos últimos anos este procedimento “tem vindo a ficar na moda” – principalmente nos Estados Unidos, através de impulsionadores como os coachs. “Mas é um método que já existe há vários anos na psicologia e que vem da Terapia Cognitivo Comportamental”, que interpreta a forma como o indivíduo entende os acontecimentos como aquilo que o sensibiliza, e não as ocorrências em si. Por outras palavras, é a maneira como cada um observa, sente e pensa em relação a um cenário negativo.
Este tipo de escrita expressiva, pode (e deve), relatar o dia a dia, os pensamentos e sentimentos, os objetivos, as preocupações, sempre em jeito de desabafo e de reflexão, porque é aqui que existe um percurso evolutivo. Para a psicóloga, o maior lema que se pode retirar do journaling é o que recorrentemente utiliza nas suas formações: “hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje”. A especialista recorda ainda que é importante fazer-se recurso às gratificações e bênçãos, agradecendo a quem já nos fez mal, “eu posso escrever no meu journal: obrigada (nome da pessoa) por me teres feito aquilo, porque isso me permitiu crescer enquanto pessoa, trabalhando a minha tolerância e paciência” – existindo sempre a procura do lado positivo, para que haja qualidade interventiva nos escritos.
Para praticar este método basta-lhe um caderno, ou, se preferir relembrar os tempos de criança, um diário com cadeado ou com fecho – nostálgico, não? Por outro lado, se for mais dado às tecnologias, e preferir registar os seus pensamentos num equipamento digital, faça-o em documentos privados que possam ser igualmente abertos no telemóvel. A psicóloga Joana Coelho, que também pratica este método, não tem dúvidas, o melhor horário para trabalhar o journaling, é sem dúvida, a manhã.“As manhãs são gloriosas, precisamos de começar o dia da melhor forma e por isso, começar o dia a agradecer e a desejar coisas boas, para nós é o ideal”, manifesta.
O papel dos psicólogos e as vantagens
Esta escrita diária, pode ser realizada por livre e espontânea vontade ou em contexto de consulta. Joana Coelho considera ser fundamental recorrer a esta técnica nas suas consultas porque acredita que é um instrumento para consolidar as competências adquiridas, mesmo que o cliente esteja fora do consultório, “se eu estiver com aquela pessoa hoje e só estou novamente daqui a 15 dias, durante estes 15 dias, muitas coisas vão perder-se e o journaling acaba por ser o meio de cimentar o conhecimento daquela hora de consulta”. A consolidação de conhecimentos, a redução das emoções negativas, o aumento da autoestima e da autoconfiança, a organização mental, a clareza dos pensamentos e sentimentos, a capacidade de encontrar soluções para problemas e a redução de stress e ansiedade, são algumas das mais fortes vantagens deste método.
A psicóloga confessa, que para ajudar os seus clientes, costuma fornecer algumas instruções, que normalmente são “de caráter emocional” para “perceber as emoções negativas e porque é que elas surgem” e que também o faz fora das consultas, com workshops e-learning que criou, como é o caso da Jornada pela cura, que consiste numa “atividade por dia para iniciar o journaling e o autoconhecimento” durante 31 dias.