Foi uma das primeiras ocupantes do 8 Marvila a decorar, num estilo industrial, as antigas cubas de vinho, transformadas em lojas de porta aberta para a selva urbana que se instalou neste espaço de restauração, eventos e comércio na zona oriental da cidade. À frente da Anomaly está Joana Matos, com carreira ligada ao marketing e à produção de eventos, área que largou para se dedicar a um universo novo, do qual conhecia pouco, mas já estudava com algum interesse. “Eu comprava roupa nas lojas convencionais e percebia que se estragava facilmente. E comecei a olhar para o vintage com mais atenção. Não só a qualidade era melhor, como encontrava peças especiais.”
Depois de uma primeira experiência na Vinokilo, empresa alemã que vende roupa a quilo, para perceber como funciona o mercado, “de onde vêm as roupas, como são classificadas, recolhidas. Os tamanhos consoante cada época… Há vários detalhes”, comenta, lançou-se no seu negócio próprio. Muitas roupas vêm de enormes armazéns na Europa com dezenas de metros quadrados, onde há roupa doada ou recolhida, e depois cada comprador faz a sua própria triagem. “Por exemplo, há um boom de crazy shirts, que são camisas com padrões coloridos dos anos 80 ou 90”, exemplifica. As peças estão também divididas em graus. “O A é de qualidade máxima, que são peças em muito bom estado, podem ser de marcas de alta-costura ou não; o B e o C já são peças que podem ter alguns defeitos.” Na Anomaly, que abriu no final do ano, tem sobretudo a categoria A, “com tecidos mais nobres, como sedas, camisolas em lã de mohair, peças feitas de um único material”, sublinha, além de marcas de renome mundial. A preços em conta, claro está. “Um dos problemas da moda é o consumo descartável, e um negócio como o meu quer promover o upcycling, a economia circular, dando também um ciclo de vida maior aos artigos.”
Para a Anomaly, Joana Matos escolheu fixar-se em peças vintage intemporais, dos anos 70 e 90, que vai buscar a Itália, a Espanha, à Alemanha ou noutras viagens e contactos que tem na Europa. A ideia é não só alimentar a compra, mas também promover uma experiência, para a qual contribuiu uma arrumação mais cuidada. “As ideia é as pessoas sentirem que estão a comprar uma peça única, com qualidade, que não encontram noutro lado. O objetivo é comprarem de forma mais responsável.” E é nisto que o mercado de segunda mão se distingue do vintage. “O vintage refere-se a peças com mais de 20 anos, que representam uma determinada época, como a moda Y2K, agora muito presente, ou as floral pants dos anos 70 ou os brilhos e o grunge dos 80. A segunda mão é apenas roupa que já foi usada.” Na sua loja, a escolha recai sobre o vintage, claro.
Mais do que apenas um espaço de comércio, Joana alimenta esta ideia de experiência não só através da escolha de peças especiais, como através de outros contactos que já a lavaram a aceitar alguns artigos de particulares. “Todos os dias chegam aqui pessoas com dead stock. Às vezes algumas peças valem a pena.” Mais: no universo do upcycling já tem feito colaborações, exemplo do trabalho com a Dois Três Três, que bordou alguns blazers e os tornou peças únicas.
Na Anomaly há uma aposta grande em casacos, em camisas, mas também em acessórios como botas, carteiras ou brincos e anéis que a própria vai usando de tempos a tempos. A melhor forma de vestir a camisola (e naõ só) e inspirar os clientes a olhar para o vintage com outros olhos.
8 Marvila, Praça David Leandro da Silva, 8 / qui-sáb 12h-20h