Hard Seltzer. O nome pode não ser o mais apelativo para o mercado nacional – e, que se saiba, ainda carece de tradução oficial – mas a bebida, servida em latas e para beber fresca, já caiu no goto dos portugueses. Com baixo teor de álcool, poucas em calorias e sem glúten, existem em Portugal já duas marcas produzidas em território nacional que, através de uma comunicação apelativa, apontam a mira à geração Z. A nível global, o mercado foi avaliado em cerca de 4.3 mil milhões de dólares (cerca de 3.6 mil milhões de euros) e estima-se que continue a aumentar nos próximos anos, com a aposta grandes empresas do sector das cervejas e refrigerantes a criar as suas marcas próprias.
O pontapé de saída das hard seltzers em Portugal foi dado pela Phunk, nas mãos de um advogado e empreendedor de 28 anos, Duarte Froes. Entre 2017 e 2018 esteve a fazer um mestrado em Direito na Cornell Law School, estado de Nova Iorque, e, conta, “via esta bebida em todas as festas onde ia”. Acompanhou o boom da categoria em direto e após uma temporada em trabalho pelo Luxemburgo, voltou a Portugal em fevereiro de 2020 com vontade de criar a sua própria marca. “Ser o primeiro a trazer a categoria para Portugal”, sublinha.
A primeira preocupação era “encontrar uma receita com a qual o consumidor português se identificasse”, isto é, vegan, sem glúten e açúcares adicionados e o mais natural possível. A segunda era mergulhar num universo desconhecido e procurar uma equipa de produção. Encontrou-a no final do verão passado, começaram a trabalhar juntos e, em dezembro, tinha a receita afinada. “Na essência é água gaseificada à qual é adicionada álcool e aromas de frutos naturais. Tem uma textura bastante leve”, resume, e um teor de álcool baixo, de 4,5%.
A Phunk foi oficialmente lançada em fevereiro deste ano, através de um site (www.phunk.pt), à data com pouco investimento em marketing e, três meses depois, estava esgotado o primeiro stock. “Tivemos um sucesso acima das expetativas.” Vendida em latas de 250 ml, com quatro sabores disponíveis – lima e gengibre, manga, cereja e mirtilo –, hoje já está presente nas principais plataformas de delivery, em algumas garrafeiras, bares, restaurantes e hipermercados. “Temos um mercado de pessoas mais preocupadas com a saúde, composto por 50% homens e 50% mulheres. O universo feminino só tem maior força acima dos 40 anos”, esclarece. Há dois meses, Duarte deixou o trabalho que tinha a tempo inteiro e trabalha agora na Phunk, dentro de um ecossistema de startups, que já emprega quatro pessoas e prepara a entrada no mercado espanhol.
Também no inverno de 2021 chegou ao mercado português a Selza, uma nova marca de hard seltzers 100% produzida em território nacional. Maia Pedro e Rui Santos, dois amigos de 32 e 30 anos, respetivamente, que estudaram Biotecnologia no Algarve, conheceram a categoria numa viagem aos Estados Unidos. Apostados em fazer a sua própria criação, iniciaram o estudo das fórmulas em casa. “Sabíamos o que fazer, como fazer e tínhamos a nossa própria visão: ser o mais saudável possível a nível alcoólico”, diz Maia Pedro.
Trabalharam durante um ano até atingir a fórmula final, apenas com ingredientes naturais – “sem conservantes, nem edulcorantes, nem aspartames…o que é algo difícil de fazer em fábricas”. Depois de muita pesquisa, encontraram dois parceiros onde conseguem produzir a Selza, para já em dois sabores, lima-hortelã e manga. “Quisemos ter uma abordagem muito transparente com o nosso produto. Temos os ingredientes descriminados, a tabela nutricional por 250 ml [a medida exata da lata]”. E apenas 5% de volume de álcool, 1,5 gramas de açúcar de cana e 75 calorias por cada dose.
Começaram a vender a Selza em março deste ano, tanto online (www.selza.io) como nas plataformas de delivery em Lisboa. “Tivemos um crescimento de 20% ao mês”, revela Maia Pedro. Em junho, a empresa de vinhos José Maria da Fonseca investiu no negócio e, explica o fundador “passou a tratar de toda a distribuição.” “Nos próximos tempos queremos entrar no canal Horeca e olhar para outros mercados de fora, sempre nesta ótica de sermos uma hard seltzer muito saudável”, garante.
Em março, a Heineken lançou em Portugal a sua própria marca desta categoria, a Pure Piraña, já à venda em vários hipermercados do país. Para beber diretamente da lata bem fresca, num copo com gelo ou, a tendência já está a nascer, usar como componente de um cocktail com outra bebida branca, é estar atento a esta bebida que, parece, veio mesmo para ficar.