Segundo a Citroën, o ë-C4 é um sucesso no mercado, estando entre os carros elétricos mais vendidos em Portugal. A marca francesa acredita que a chegada da variante ë-C4 X vai melhorar ainda mais o desempenho comercial do modelo, que tem por objetivo liderar o segmento onde se insere.
Naturalmente, as semelhanças com o ë-C4 são evidentes. Aliás, se olharmos apenas para a metade da frente, será muito difícil encontrar diferenças entre o ë-C4 X e o ë-C4. Tudo muda a partir das portas traseiras, já que o ë-C4 X tem tejadilho que faz lembrar um coupé, em o formato ‘fastback’. E é esta traseira que permite melhorar a aerodinâmica, cujo cociente se situa nuns impressionantes 0,29. Ainda mais porque este carro também ‘dá ares’ de SUV com os quase 16 centímetros de altura ao solo e a posição de condução elevada (1,22 metros de altura).
Números redondos
A componente elétrica não mudou relativamente ao ë-C4 e aos vários carro do grupo que utilizam a mesma plataforma: 50 kWh para a capacidade de bateria (46,3 kWh úteis) e 100 kW tanto para a potência do motor como para a potência de carregamento. Números que não impressionam considerando a concorrência. Mas é verdade é que, depois de conduzirmos o ë-C4 X, percebemos que são valores perfeitamente satisfatórios para uma boa parte dos perfis de utilização.
Dizemos o mesmo que dissemos em testes de outros carros com o mesmo conjunto motor/bateria, como os Peugeot e-208 e e-2008: é uma solução que consegue um bom equilíbrio entre as variáveis peso, autonomia, desempenho e velocidade de carregamento. É verdade que mais autonomia é sempre bom, mas quem é que precisa de fazer, todos os dias, mais de 300 quilómetros? Os números demonstram que são poucos os utilizadores com esta necessidade, e uma bateria maior significaria mais peso, o que afetaria os consumos e, claro, o preço. A velocidade de carregamento, num posto de 100 kW ou superior, permite recuperar mais de 200 km em meia hora (menos de 30 minutos para carregar os primeiros 80% da bateria).
Quanto ao desempenho, os 100 kW, ou 136 cavalos para quem prefere usar uma nomenclatura mais tradicional, são enganadores. É verdade que a aceleração não nos deixa colados ao banco, mas os 9,5 segundos dos 0 aos 100 km/h são satisfatórios e, ainda mais importante, a aceleração nos primeiros metros bate carros de combustão equivalentes. Uma consequência da disponibilidade de binário dos motores elétricos, que não precisam de ganhar rotações para entregar a força máxima.
Tapete voador
Em suma, o desempenho é suficiente para, por exemplo, fazer ultrapassagens em segurança, como verificámos quando foi necessário ultrapassar alguns camiões nas N10 e N118, duas das estradas incluídas no percurso de ensaio. Mas este não é o carro que convide a uma condução mais desportiva. É, claramente, um carro que dá prioridade ao conforto. A suspensão tem um curso longo e não se sente bater no limite mesmo quando passamos por lombas mais generosas. Tudo graças a um mecanismo que conjuga amortecedores hidráulicos com molas para evitar os batentes mecânicos. A comunicação da Citroën refere “tapete voador”. Talvez seja um exagero, mas não nos lembramos de conduzir um carro do segmento tão confortável. Até porque os bancos, com espuma viscoelástica, são muito bons e o isolamento de ruído exterior está bem conseguido.
Atrás há, claramente, mais espaço para os passageiros que no ë-C4. Os bancos foram como que empurrados uns centímetros mais para trás e têm uma maior inclinação, o que permite uma posição mais relaxada e afastar as cabeças do teto. Duas pessoas vão, mesmo, muito bem, com espaço e conforto mais típicos de segmentos superiores. O formato dos bancos, que os afasta das portas, torna o lugar do meio apertado.
Tratando-se um quatro portas, o acesso à bagageira não é muito amplo, mas a mala é generosa. São mais de 500 litros de capacidade – com alçapão – e uma superfície plana com um pouco mais de um metro de largura (entre os arcos das rodas).
Tecnologia renovada
O sistema de infoentretimento não tem muitas aplicações incluídas. Ainda assim, inclui navegação com informação de trânsito em tempo real e atualizações remotas (over the air). E há funcionalidades que consideramos práticas, como a possibilidade de armazenar até oito perfis de condutores, sendo que o perfil é escolhido automaticamente em função do smartphone detetado (e cada perfil pode estar associado a dois smartphones). Voltando às poucas aplicações integradas, o suporte para Apple CarPlay e Android Auto resolvem essa limitação já que dão acesso, a partir do ecrã tátil do carro, a um grande número de apps que correm no smartphone. O ecrã central de 10 polegadas é rápido a responder e a interface gráfica, apesar de não ser particularmente atraente, é simples. Gostamos de ter comandos tradicionais, por baixo do ecrã, para controlar a climatização e o volume do som. Bem como das tomadas USB, tanto à frente, como para os passageiros de trás. Como o ë-C4, há um suporte específico para tablets por cima do generoso porta-luvas. Uma característica que pode ser importante para alguns profissionais.
Relativamente à tecnologia aplicada à segurança, o equipamento é convincente, incluindo travagem automática, apoio à condução de nível 2 (Cruise control adaptativo e manutenção na faixa de rodagem) e deteção de aproximação de veículos.
Primeira opinião
O ‘elefante dentro do ë-C4 X’ é o preço, que começa nos €40.185 para a versão base (Feel) e chega aos €44.185 na versão de topo (Shine Pack). É verdade que o acréscimo é pouco relativamente ë-C4 sem o X (cerca de €350 de diferença para cada nível de equipamento), mas não é possível esquecer que o Tesla Model 3 está a começar nos cerca de €40.000. Mesmo o ‘primo’ e-2008 tem um preço base inferior e um design que nos parece mais popular no momento (SUV assumido).
Por outro lado, ë-C4 X acaba por ter um formato único, que pode atrair alguns clientes, complementando o ë-C4. Parece-nos que este pode ser um carro com muito sucesso junto aos motoristas e empresas de táxis e TVDE devido ao espaço extra para bagagem e para os passageiros no banco de trás. Imaginámos qual seria a nossa reação se fossemos transportados por um Uber num do ë-C4 X: a probabilidade de dar cinco estrelas seria muito elevada.