A Renault habituou-nos a fazer diferente no que carros de luxo diz respeito. Algumas vezes demasiado diferente para o mercado que, neste segmento, tende a valorizar opções mais conservadoras. Talvez por, isso o Talisman seja mais “normal” que alguns antecessores, embora se note um certo inconformismo dos designers franceses sobretudo na grelha frontal, nas óticas e nas linhas que ligam estes elementos à carroçaria. Felizmente, há uma tradição que a marca francesa manteve: a forte aposta na no equipamento, com destaque para a tecnologia.
Parece mais curto
O Talisman é um carro grande. O conforto a bordo desta versão mais bem equipada está, certamente, entre os melhores do mercado. Nos bancos traseiros, mesmo três adultos viajam confortavelmente. E podem usar gadgets durante a viagem sem problemas de bateria já que têm acesso a duas portas USB e a uma tomada de isqueiro, que complementam outras tantas disponíveis junto do condutor. Mas não se pense que este é um carro para entregar a um “chauffeur”, já que na frente é ainda melhor, especialmente quando, como acontece na versão ensaiada, os bancos frontais estão equipados com sistema de massagens. Ao volante fomos surpreendidos com a agilidade em percurso urbano. O carro parece bem mais pequeno do que é. Uma consequência do sistema 4Control, que direciona as rodas traseiras ajudando, por exemplo, a evitar os típicos encontros imediatos das jantes traseiras com os passeios em curvas mal calculadas. Sente-se também o efeito desta arquitetura sempre que tentamos descobrir os limites do carro. Ou seja, o 4Control ajuda nas manobras, mas também na dinâmica, sobretudo quando associado à suspensão adaptativa, opção instalada no carro ensaiado.
Apesar de este não ser um carro desportivo – a tonelada e meia sente-se bem, sobretudo nas rotações mais baixas –, os dois turbos “libertam” o Talisman quando se ultrapassa as 2000 rpm. No global, gostámos da relação potência/consumo: fizemos uma média de 5,8 l/100 km ao longo dos mais de 500 km do teste, que juntou viagem em autoestrada com circulação urbana, e nunca sentimos falta de força para, por exemplo, fazer uma ultrapassagem em segurança. A caixa automática revelou-se rápida e suave q.b., ajudado bastante tanto em termos de conforto como em termos de prazer de condução.
O modo de operação do 4Control, a rigidez da suspensão, a resposta do motor, a cor da iluminação LED, a “equalização” do som do motor, o grafismo dos ecrãs… Estes e outros aspetos podem ser configurados e associados aos perfis de condução. E algumas destas opções mudam significativamente a experiência ao volante do Talisman. Configurações que são feitas através do ecrã central tátil generoso colocado ao alto. Ecrã que é mate e não brilhante, uma opção que ajuda a evitar reflexos e disfarçar as impressões digitais. A interface gráfica e a estrutura dos menus tornam este um dos sistemas de infoentretenimento mais fáceis de usar do mercado – provavelmente, o R-Link 2 é mesmo o sistema mais intuitivo da atualidade. Uma roda de comando e botões de atalho são alternativas à utilização dos dedos – opção que preferimos pela segurança. Pela negativa, o sistema é um pouco lento a responder e apresentou vários problemas, incluindo bloqueios, quando associámos o R-Link 2 a dois smartphones da Samsung (Galaxy S6 e S7). Por outro lado, funcionou bem com outros três telemóveis (Huawei P9, Asus Zenfone 2 e iPhone 5). A ligação ao smartphone é utilizada para bem mais do que apenas mãos-livres: há acesso à agenda telefónico, controlo de reprodução de ficheiros de música e utilização de ligação de dados para os serviços e apps My Renault. Entre estes serviços, o destaque natural vai para a atualização constante dos mapas e informação de trânsito em tempo real. No entanto, estes serviços só são oferecidos no primeiro ano. Era preferível que a Renault optasse por adicionar suporte para o CarPlay e para o Android Auto de modo a podermos “espelhar” as funções do telemóvel no ecrã central do carro. Isto porque, por exemplo, a navegação e informação de trânsito da Renault esteve uns pontos abaixo do que é possível com o Waze ou Google Maps, duas opções que até são gratuitas.
Segurança
Felizmente, o sistema de travagem automática para evitar ou reduzir as consequências dos choques frontais já é comum em carros deste segmento. Menos comum, mas também disponível, é o cruise control adaptativo, que mantém a distância de segurança para o veículo da frente. No global, funciona bem, mas parece-nos que a aceleração imposta por este sistema é demasiado agressiva, prejudicando o consumo. No teste em autoestrada, sempre que a faixa de rodagem onde circulávamos ficava livre lá sentíamos o Talisman a acelerar quase a fundo.
O detetor de faixas, ou melhor, das linhas que separam as faixas de rodagem, permite alertar o condutor através de um som vibrante sempre que o carro se aproxima dos limites da faixa (a não ser que o pisca esteja ativado). A sensibilidade do sistema e o volume do alerta são personalizáveis, uma boa característica já que, deste modo, talvez menos condutores desativem esta função. E quem nunca se distraiu e, consequentemente, deixou o carro sair um pouco da faixa de rodagem que “atire a primeira pedra”.
LABORATÓRIO
Interface Muito bom
Navegação Bom
Comunicações Bom
Aux. à condução Bom
Potência 160 CV (gasóleo) ○ Binário máx. 380 Nm ○ Acel. 0-100 km/h 9,4 s ○ Emissões CO2 115 g/km ○ Vel. máx. 215 km/h ○ Consumo indicado: 4,4 l/100 km/h ○ Consumo testado: 5,8 l/100 km/h ○ 1,890 x 1,463 x4,849 m (LxAxC)