Dizer que os King Gizzard & The Lizard Wizard se reinventam a cada disco é tão redutor como encaixá-los na cada vez mais ampla prateleira do rock psicadélico, onde, à falta de rótulos mais precisos, muitos ainda teimam em colocá-los.
Se dúvidas houvesse sobre esta capacidade de baralhar conceitos por parte deste grupo de Melbourne, basta recuar até 2017, quando editaram não um, nem dois ou três, mas sim cinco registos de originais num ano, todos eles muito diferentes entre si, numa odisseia que começou com música microtonal, continuou no rock progressivo, foi até ao jazz, seguiu com um álbum oferecido aos fãs através da internet e terminou com um disco feito com as sobras disto tudo, lançado no último dia do ano, a 31 de dezembro. Um feito repetido em 2022, com três álbuns a serem lançados num único mês.
Não é portanto de admirar que os King Gizzard & The Lizard Wizard tenham ganho o estatuto – e de forma muito bem merecida – de serem uma das bandas mais prolíficas, aventureiras e inventivas de sempre. Desde 2010, já lançaram 25 álbuns de estúdio e em cada um deles avançam, com naturalidade, por novos territórios musicais, num big-bang musical que faz pensar, por exemplo, em Frank Zappa.
Igualmente conhecidos pela sua militância pela causa ambiental e luta antirracista-misogenia-transfobia, tornaram-se uma verdadeira banda de culto, na verdadeira acepção da expressão.
O septeto, ainda relativamente desconhecido junto do público mais mainstream, congrega à sua volta uma imensa e dedicada legião de fãs global, conhecidos como Gizzheads.
Foi, aliás, a pensar neles que criaram o programa Bootlegger – permitindo a editoras independentes disponibilizarem a sua música gratuitamente nos mais variados formatos – e que agora se apresentam nesta exclusiva digressão de residências artísticas, com três dias de concertos únicos e irrepetíveis, apenas realizada em cinco cidades: Lisboa, Barcelona, Vilnius, Atenas e Plovdiv.
King Gizzard & The Lizard Wizard > Coliseu dos Recreios, Lisboa > 18-20 mai, dom-ter 21h > €35 a €40
OUTROS DOIS CONCERTOS NESTE FIM DE SEMANA
Concertos Promenade – Jorge Palma
No site do Coliseu do Porto, há um aviso sobre este concerto matinal: “Esta é uma sessão descontraída.” Os Concertos Promenade andam há 20 anos a aproximar públicos de todas as idades a partir da música clássica. Nesta “carta branca” a Jorge Palma, cantautor e exímio pianista, podem ouvir-se, além das suas canções, composições de Tchaikovsky, Berlioz ou Puccini pela Orquestra Sinfónica ARTAVE (Escola Profissional Artística do Vale do Ave). Coliseu Porto Ageas > 18 mai, dom 11h > €6 a €14
Democrash
A apresentação ao vivo do segundo álbum dos Democrash, Important People, acontece na véspera do “dia de reflexão” que antecede as eleições do próximo domingo, 18. Ouvindo o que a banda tem a dizer sobre este regresso aos discos, faz todo o sentido: “É uma denúncia musical e estética do colapso lento do ‘eu’ no meio de algoritmos, distrações e falsas utopias, com a urgência de dizer o que importa.” Rock feito aos ombros de gigantes por uma banda com coisas para dizer, que gosta de viajar por várias sonoridades e aposta na energia e intensidade de concertos em pequenas salas. Tokyo > Cais do Gás 1, Lisboa > 16 mai, sex 22h > €12