Seis anos depois de Parasitas, o sul-coreano Bong Joon-Ho volta a estrear um filme nas salas de cinema. Parasitas, como se sabe, foi um filme-fenómeno, arrebatando tudo e todos, do público à crítica, ganhando importantes festivais de cinema e conquistando, também, os Oscars.
A expetativa sobre o passo seguinte era enorme. Até porque este se trata de um filme em língua inglesa, com um orçamento de 150 milhões de dólares (contra os 13 de Parasitas). A primeira conclusão natural a que se chega é que com menos se pode fazer mais. Mas nem por isso vamos esvaziar Mickey 17 de virtudes.
O público que vibrou com o engenho de Parasitas talvez fique desiludido com aquele que pode ser considerado um passo em falso. Contudo, a chave para entender Mickey 17 não estará em Parasitas (que parece um golpe de génio isolado no percurso de Joon-Ho), mas sim na sua filmografia anterior, sobretudo Expresso de Amanhã (2013), que o próprio realizador converteu em série de televisão.
Quem gostou de Expresso de Amanhã vai achar Mickey 17 melhor. É um espetáculo de entretenimento: ficção científica minimamente imaginativa, que explora os lugares-comuns, com sentido de humor e a criação de um ambiente, com espaço, ainda, pouco subliminar, para reflexões existencialistas, sobre a vida, a morte, a identidade (daquelas que agradam aos filósofos do quotidiano).
O filme parte da adaptação de um romance de Edward Ashton, publicado em 2022, e conta com Robert Pattinson – ator ídolo das sagas de terror adolescentes – no principal papel. Perante uma trama que tem efetivo potencial, Joon-Ho não consegue desenhar um argumento suficientemente redondo, deixando algumas arestas, embora saiba manter um bom ritmo narrativo, socorrendo-se de discurso colorido. Pattinson consegue admiravelmente encontrar o registo certo para a sua personagem, que é, ao mesmo tempo, um herói e um anti-herói.
O próximo projeto do realizador é um filme de animação. Mas este Mickey 17 – baseado na ideia de sistemática regeneração após a morte da personagem Mickey Barnes – parece mesmo estar construído a pensar na adaptação a série ou, pelo menos, em cerca de 16 prequelas.
Mickey 17 > De Bong Joon-Ho, com Robert Pattinson, Naomi Ackie, Steven Yeun, Toni Collette, Mark Ruffalo e Holliday Grainger > 137 min
