Os meus filmes contam o futuro”, disse o realizador Francis Ford Coppola em entrevista recente a Vasco Câmara, no suplemento Ípsilon, do Público. E quando assistimos a Megalópolis é impossível não pensarmos no futuro próximo e nas eleições norte-americanas que se aproximam.
Aos 85 anos, o realizador apresenta um filme com que sonhava há mais de 20. Na sua base está uma comparação entre o Império Romano e os EUA – New Rome é a cidade que o realizador nos apresenta e onde tudo acontece. Vendo as utopias tecnológicas do arquiteto Cesar Catilina (Adam Driver) e os jogos de poder de políticos e milionários (com ecos shakespearianos) de um império em estado pré-apocalíptico, necessariamente nos ocorre que Donald Trump, com a grande ajuda do bilionário sonhador Elon Musk, pode ser, em breve, o novo líder do “império” norte-americano. Utopia e distopia aproximam-se num mesmo universo paralelo. Se Musk sonha com viagens de humanos a Marte, Catilina aposta num novo, dinâmico e revolucionário material (Megalon) que mudará as vidas nas cidades para sempre.
O filme em que Coppola apostou tudo (para conseguir os 120 milhões de dólares necessários para o concretizar, vendeu mesmo parte do seu negócio vinícola) não se desenrola de forma linear. Há um ambiente onírico, que tanto nos faz mergulhar profundamente naquele imaginário como nos pode fazer perder o pé, sentindo-nos perdidos, tentando juntar as peças de um gigantesco (megalómano?) puzzle, pejado de referências e de mensagens que Coppola nos quer entregar, por vezes de forma óbvia, em refrãos orelhudos.
Aparentemente, o filme não conquistou multidões nos EUA (e, devido ao fraco box-office, há quem lhe chame por lá Megaflópolis). Ao fim de mais de duas horas, tudo termina ao som da velha canção Lonely Planet, dos The The: “If you can’t change the world, change yourself [Se não consegues mudar o mundo, muda-te a ti próprio].” As palavras de Leonard Cohen em The Future também ali ficariam muito bem: “I’ve seen the nations rise and fall, I’ve heard their stories, heard them all/ but love’s the only engine of survival [vi nações a erguerem-se e a caírem, ouvi todas as suas histórias/ mas o amor é o único motor para a sobrevivência].”
Megalópolis > De Francis Ford Coppola, com Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza > 138 min